Há algum tempo atrás foi revelado que a presidente da Assembleia da República mandou apagar da Wikipedia a referência à profissão do pai, que seria alfaiate. E há dias uma filha de um banqueiro declarava que ia para a herdade da família, na Comporta, “brincar aos pobrezinhos”.
Muito boa gente, demasiada, catalogou estas duas pessoas como sendo de direita. Uma porque pura e simplesmente nasceu em berço de ouro. A outra porque esconde, alegadamente por vergonha, a sua origem humilde. E também porque ninguém da direita criticou as suas atitudes. Cumpre esclarecer, na medida do possível deste escriba: a direita não critica porque considera os episódios politicamente irrelevantes. Ponto final. Contudo, há quem classifique as ditas pessoas como sendo de direita pelo facto de serem ricas ou porque não querem que um passado manche a sua aparência de riqueza. Nada podia ser mais ilusório. Ricos e pobres, envergonhados e expeditos, há-os em todos os partidos.
O que politicamente diferencia uns dos outros é bem mais profundo, como não podia deixar de ser. A esquerda acredita que nascemos bonzinhos. A direita não. Para quem é de direita, o ser humano está sempre pronto para contrariar o seu dever racional. E tem de se esforçar, uns mais do que os outros é certo, para cumprir tal dever. Muitos até pedem ajuda a Deus para o conseguir. Não há problema nenhum nisso, pois todas as ajudas são bem vindas.
Esta noção do próprio ser humano faz toda a diferença na abordagem à sociedade. Ao contrário do que possa parecer aos ouvidos e olhos de muitos (porque a maioria de quem fala e escreve é de esquerda), a direita não anda a apregoar e a impor moral alguma porque sabe que a carne é fraca. A de todos, sem excepção. São outros os que se arvoram em pregadores moralistas. Normalmente os que atiram pedras aos telhados dos outros. Por isso são estes que mais criticam a filha do banqueiro ou a presidente da Assembleia da República. Porque sabem que uma pedra atirada na sua direcção não vai encontrar telhado algum, muito menos de vidro.
Por mim, ciente da minha fraqueza e pecador confesso, estou mais virado para valorizar a força e o esforço de quem “nasceu na cabana de madeira que construiu com as suas próprias mãos”, para citar frase usada por Bill Clinton no famoso discurso de apoio à reeleição de Obama,
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