Pedro Dias
Quando parte um amigo temos sempre a tentação de lamentar essa partida, deixando que os sentimentos venham ao cimo, sem termos capacidade e distanciamento para fazer qualquer tipo de análise do que aconteceu.
A Lei da Vida é assim mesmo; mas não nos habituamos. Horas antes de Mário Nunes nos deixar, ainda falámos ao telefone. Tinha uma chamada não atendida, e respondi depois. Uma vez mais, tratámos de assuntos banais da nossa tão querida Coimbra, tema que nos ligava, há trinta e muitos anos.
Não quero, nem é este o lugar, para relembrar tudo o que fizemos juntos, este caminho longo, lado a lado, criando, realizando, escrevendo tanta coisa, e falhando outras, que não passaram de sonhos.
Mas, mais do que o Mundo, ou mesmo Portugal, era Coimbra que nos interessava. Mário Nunes foi um dos grandes cultores do Amor à urbe mondeguina, e não só no campo da Cultura, mas também no da Solidariedade Social.
De uma enorme simplicidade, sem vaidade, com modéstia mesmo, trouxe para dentro dos muros de uma Cultura tradicionalmente elitista muitos que apenas vislumbravam, do lado de fora, o que no interior da “cerca” se passava.
E fê-lo através do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, e também do apoio às colectividades populares, sobretudo da zona rural do Concelho, tarefa a que se entregou de alma e coração, enquanto foi vereador. Chamou para junto de si outros que ainda mantinham vivas memorias de tradições extintas ou em vias de extinção, fazendo-as renascer e dando-lhes mesmo uma pujança que nunca tinham conhecido.
Também escreveu muito. Muito sobre Coimbra, muito sobre a sua Penela natal, e sobre temáticas tangentes ou secantes a estes dois núcleos essenciais. E não apenas livros, pois as páginas dos jornais da cidade e da região viram centenas e centenas de páginas saídas da sua mão.
Mário Nunes deixa um legado do maior relevo, pelo que fez e pelo que fez fazer e, mais ainda, pelo que permitiu fazer, quando deteve Poder. Valeu a pena.
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