Opinião – Por que elegemos patifes?

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Bruno PaixãoBruno Paixão

Vi a lista dos candidatos que vão este ano disputar eleições autárquicas. Reparei em nomes que estiveram implicados em escândalos políticos. Reconheci alguns envoltos em ardilosos enredos que originaram casos de suspeição contra adversários; outros que abusivamente mantiveram regalias concedidas por empresas públicas onde já não trabalhavam. Um deles semeou nos media rumores contra outros políticos, que nunca vieram a confirmar-se, cuja investigação custou aos contribuintes milhões de euros. Enfim, um vasto menu. E encontrei até quem destas características as tenha todas!

Uma pergunta a que tento com frequência responder tem a ver com a razão pela qual os eleitores votam em candidatos cujo comportamento ético e moral nos apontam que o seu lugar deveria ser o mais afastado possível da vida política. Apesar de termos hoje uma imprensa mais vigilante, uma informação mais veloz e de esta chegar a mais gente, há ainda quem prefira meter a cabeça na areia e fingir que o candidato corrupto ou abusador merece o seu voto para gerir o bem público, o dinheiro de todos.

Lembro que apesar de condenado a perda de mandato e a sete anos de prisão efetiva, Isaltino Morais conseguiu vencer as eleições de 2009, em Oeiras, com mais 7,5% dos votos do que nas eleições anteriores… Bem sei, todavia, que há casos exemplares em que os cidadãos se indignam contra os corruptos e privilegiam quem é sério e quem é merecedor de confiança.

Há vários motivos para elegermos patifes. O primeiro tem a ver com o estado de anestesia que a cena política nos causa. Assistimos a uma mácula moral tão recorrente, que vamos ficando imunes a uma reação aos que passam pela política e a contaminam.

Outro aspeto, tem a ver com o efeito de amnésia, como lhe chama Umberto Eco. O excesso de informação fornecida ao público escamoteia o mais relevante e provoca um certo esvaziamento. A quantidade de informação que recebemos facilita que deixemos esquecido no passado o mau papel que alguém desempenhou no seu teatro político.

Outro ainda prende-se com o enfraquecimento da política ideológica em detrimento da política centrada no indivíduo. O sentido, a racionalidade e as ideias que desde sempre impregnaram o nosso universo simbólico, têm vindo a dissipar-se. O que erroneamente deixa nos eleitores a aspiração sonâmbula pela chegada de um rosto que preencha os seus vazios.

Vejo mais um motivo, que concerne à descrença nos valores, quando a verdade e a falsidade são redundantes, fazendo com que os cidadãos criem uma cortina que os afasta dos episódios nefastos e tenda a desculpabilizar um político corrupto. Tenho para mim que esse ator político, diante do poder, reincidirá no mesmo comportamento.

Retenho por isso a célebre frase de Simone de Beauvoir, “o mais escandaloso nos escândalos é que nos habituamos a eles”.

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