Não fazia a mínima ideia do que me queria o Diretor da Faculdade quando me informaram que este queria falar comigo, com muita urgência.
Estava, na altura, trinta e um anos atrás, a colaborar, por um período, com uma universidade jovem, onde lecionava e orientava alguma investigação.
Quando entrei no gabinete do Diretor, estava este e mais dois elementos da Direção. Foram diretos ao assunto. Não estava em causa o apreço que tinham pela minha colaboração, mas não podiam ficar indiferentes ao facto de eu estar a levar a cabo investigação que punha em risco a integridade física de alunos, neste caso, mestrandos.
Tinham conhecimento de um acidente com alguma gravidade. Tinham decidido proibir a continuação do projeto.
Para perceberem porque é que perguntei se também iam proibir a substituição de lâmpadas na Faculdade, é preciso saberem a história toda, desde o princípio. Aqui vai:
Como tema de tese de mestrado, tinha pensado em levar a cabo um estudo de modo a tornar possível o aproveitamento das diferenças de potencial eléctrico que, hoje se sabe, existirem entre pontos no interior das árvores, ou entre estes e a terra. Na altura era muito escassa a literatura sobre o tema. Parecia no entanto realista pensar que houvesse tais diferenças de potencial já que na árvore há movimentos de líquidos que contêm cargas eléctricas, passagem através de membranas, etc. A ideia final era tentar aproveitar esta fonte de energia para alimentar pequenos circuitos de deteção de fumos com emissores de rádio, que se colocariam nas árvores, para a prevenção de incêndios.
Na prática tinhamos de implantar eléctrodos nas árvores e perceber quais eram as melhores condições para obter as tensões que necessitávamos. Faziamos pequenos orifícios a diversas alturas e com diferentes profundidades onde se adaptavam eléctrodos com diversas configurações.
Foi numa destas operações que um dos mestrandos caíu do escadote abaixo. Nada de grave, para além de um arranhão e do susto.
Dentre as numerosas soluções que existem para evitar que uma pessoa caia de um escadote, a solução que a douta direção encontrou foi não subir.
Não houve maneira de dar volta ao problema e a minha maneira de reagir à decisão é capaz de não ter ajudado grandemente. Inclusivé, comprometeu em definitivo a minha colaboração com a instituição. O projecto, esse, morreu ali.
Ontem como hoje, sempre houve pessoas com dificuldade em subir, ou deixar que outros o façam.
Claro que se caírmos, e com frequência … estamos a facilitar-lhes o trabalho…
A propósito, já há resultados publicados sobre aproveitamento da electricidade vegetal.