Opinião – A bola de sabão

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Bruno PaixãoBruno Paixão

A vida dos políticos, como se tem visto, tornou-se um alvo fácil e apetecível para um certo tipo de jornalismo. Porquê? Porque o público diverte-se ao ver um político de calças na mão. Nenhuma outra razão me convence mais do que esta.

As notícias polvilhadas de espetacularidade atraem audiências, o que, aparentemente, serve uma lógica de mercado que satisfaz alguns órgãos de informação. E isso repercute-se no produto jornalístico, ele próprio cada vez mais direcionado para o entretenimento.

Os políticos são um tema recorrente para os media que procuram oferecer produtos atraentes às audiências. Por isso, vasculhar o lixo das figuras públicas, ao estilo do “muckraking” americano do início do século passado, tem-se tornado cada vez mais comum entre a nossa imprensa tabloide, estando a alastrar-se também à imprensa de referência, que junta no mesmo saco informação e entretenimento. Ou melhor, infoentretenimento.

Esta forma travestida de jornalismo não obedece a alquimias complexas. A receita combina rumor, “fait divers”, alguma maledicência e exploração de sensações, ou sensacionalismo. Esta fórmula nem sequer precisa de refletir a realidade, pois prontifica-se a criá-la de novo, retocando os factos, maquilhando os acontecimentos. Um copo de água, nas mãos do infoentretenimento, facilmente se converte em tempestade. Nessa perspetiva, pode dar-se uma certa razão ao velho provérbio “notícias más são boas notícias”, ou, recorrendo a uma expressão muito portuguesa, “quanto pior, melhor!”.

Mas há que reconhecer que o jornalismo crítico e de vigilância tem até contribuído para uma governação mais correta, expondo as falhas dos políticos. O que contesto é a tendência para relatar aquilo que está mal em detrimento do que está bem, tal como a condimentação dos factos para que a notícia seja mais polémica, chocante, dramática, negativa.

A compreensão deste fenómeno é uma boa chave para a interpretação da relação entre os media e o público. As ciências da comunicação convergem na ideia de que as pessoas formam o seu quadro de realidade a partir das informações veiculadas pelos media. Desta forma, reclama-se uma informação autêntica e pejada de veracidade, sem camuflagem de intenções. Uma informação que não nos venda gato por lebre.

O certo é que há órgãos de informação a encaminhar-se para este abismo, julgando que a adesão às práticas tabloides são a única forma de escapar à crise no setor dos media, preocupando-se mais em vender do que em informar bem e com ética. No fim do beco, há uma imensa prateleira de fracassos, onde figuram jornais como “O Independente”, o “Tal & Qual” ou o “24 Horas”. Vemo-los furtivos, a sobrevoar por cima dos acontecimentos, como uma bola de sabão, que a força das coisas se encarregará de furar.

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