Se Terrence Malick tivesse lido com atenção a espanhola María Zambrano é provável que o seu filme A Essência do Amor não fosse a infindável pergunta que nos deixa perplexos e cansados até ao limite.
Em A Árvore da Vida a sua proposta já era um retorno à consciência e às perguntas primárias: de onde surgimos e qual o sentido da vida, mas em A Essência do Amor Malick ultrapassa as fronteiras do minimalismo e entra no que se pode classificar como teimosia do impasse: como não há resposta, interroga até se esquecer da pergunta.
O último filme de Malick surge assim como uma exposição clara da ignorância com que lidamos com o Amor e as suas fronteiras.
A protagonista, que o realizador segue como uma sombra (no seu estilo inconfundível), da Europa à América, levita primeiro quando possuída pelo amor que a faz feliz.
Mas quando esse amor deixa de ser o conto de fadas prometido regressa à Europa. Voltará mais tarde à América, na esperança de reencontrar o seu amor perdido. Um retorno ao mesmo cenário, mas onde o amor se transformou em recordação e memória.
O outro protagonista desta história de amor que parecia infinito deixa-se amar na confortável espuma dos dias. Com um amor a substituir um outro sem olhar nunca para trás.
E as questões que o filme de Terrence Malick nos coloca são simples: como se recupera um amor que já nos pertenceu e que desaparece sem deixar rasto? A quem pertence um amor com dois protagonistas?
Esta questão é ainda mais visível no terceiro personagem do filme, um padre, vítima do amor por um Deus que no seu deslumbramento o motivou à escolha radical do sacerdócio e que agora se sente abandonado por Ele. Aqui, o desespero é infinito e silencioso.
Repito: se Terrence Malick tivesse lido o que María Zambrano escreveu sobre o Amor em O Homem e o Divino (de que aqui fica apenas um aforismo): “A consciência aumenta após um desengano de amor, como a própria alma se dilata com o seu engano”, o filme A Essência do Amor não se arrastava interminavelmente na pergunta: Onde está o Amor?
Porque o amor e o seu abandono são uma aprendizagem. Um reforço da nossa humanidade e independência.