Fio de Prumo – Presidenciais (I)

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LUIS PARREIRÃO

Luís Parreirão

O país foi assistindo, ao longo dos últimos anos, à desvalorização política do Presidente da República e do seu papel.

A um sistema político concebido e construído no equilíbrio entre vários poderes e vários protagonistas, vem sucedendo, na prática, um sistema em que esse equilíbrio se rompe por diminuição da relevância da figura e da função presidencial. E ninguém, leia-se nenhum partido, está imune a críticas ou se pode desresponsabilizar da situação actual.

A esquerda, e nela o PS com especiais responsabilidades, apresentou-se nas duas últimas eleições presidenciais dividida, sem estratégia e sem ambição, sacrificando dois dos seus principais e mais respeitáveis protagonistas – Mário Soares e Manuel Alegre.

A direita apresentou-se, pela primeira vez desde 1985, com a ambição e as condições para ganhar – o que, de facto, veio a acontecer. Só que, infelizmente, o que poderia ter sido uma afirmação da nossa plenitude democrática transformou-se numa penosa distorção fáctica do equilíbrio de poderes em que assenta o nosso sistema constitucional.

O Presidente da República que começou por evidenciar uma compreensível dificuldade de personalidade em “vestir o fato presidencial ” evoluiu para um Presidente sequestrado pela crise económico-governamental, por algumas gaffes de difícil explicação, por algum desacerto nos temas escolhidos para a intervenção pública e por uma certa sensação larvar de inutilidade da função.

A tudo isto os protagonistas políticos parecem responder com algum alheamento e, sobretudo, com a completa ausência de tomadas de posição pública, porventura por tacticismo ou hipocrisia. Acontece que o assunto é sério e merece reflexão e acção.

Do ponto de vista nacional, certamente. Do ponto de vista da esquerda, e em especial do PS, urgentemente!

Desgraçadamente temos vivido um clima mais propício a discussões mais imediatistas. Acontece que sem um regime e instituições sólidas, sem protagonistas fortes e conscientes das suas competências e, consequentemente, sem um Estado forte, de pouco valerão as vitórias eleitorais, sobretudo as da esquerda. E no topo da pirâmide desse Estado forte está o Presidente da República.

Alguém tem dúvidas sobre a relevância dos desempenhos de Mário Soares e Jorge Sampaio enquanto Presidentes da República?

A esquerda, e sobretudo o PS, não podem ir para a terceira eleição presidencial consecutiva sem estratégia. E formular uma estratégia presidencial consistente e ganhadora precisa de tempo.

É a esse tema que voltaremos na próxima semana para o desenvolver.

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