Opinião – O que fazer?

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01 NORBERTO PIRESÉ evidente que os políticos não sabem o que fazer. A simples ideia de confiscar as poupanças das pessoas, como foi sugerido para o Chipre, mostra bem a incapacidade dos políticos atuais. Não é desnorte ou desorientação, é mesmo incapacidade para resolver os problemas que nos afetam e que, em grande parte, resultam do total desinteresse pela vida das pessoas.

Em Portugal vejo uma desastrosa intervenção do ministro das Finanças e fico abismado. Já nem me admiro com a insensibilidade com que fala de mais 100 mil desempregados, ou em despedimentos, ou no agravamento da recessão e em mais dificuldades. Nem me admiro com o facto de não tirar consequências por ter falhado todas as suas metas e previsões. Nem com o facto de ter elaborado um orçamento irrealista, que se baseava em cenários idílicos e previa o impossível: bastava olhar para os relatórios mensais de síntese de execução orçamental que o seu próprio ministério elaborava para perceber a dimensão do engano que é o seu orçamento. O que me admira mesmo, e me deixa fora de mim, é a serenidade com que um ministro das Finanças consegue falar de um deficit de 6.6%, no final de 2012, na mesma frase em que fala no sucesso da consolidação orçamental e do ajustamento da nossa economia. Depois de tantos sacrifícios e de tantas promessas, como é que ainda não percebeu que a sua estrada acabou? Na oposição, vejo os que nos conduziram a esta situação a sacudir a água do capote e a anunciar que desta vez é que vai ser. A alternativa é mais um rotundo engano, com máquinas partidárias, sedentas de poder, a dizer, de novo, o que aparentemente as pessoas querem ouvir.

Tudo isto me diz que os políticos não sabem o que fazer. Perderam a sintonia com o povo, se é que alguma vez a tiveram, e esqueceram-se que o exercício do poder é algo de colectivo. É essa a essência da liberdade e da democracia, a permanente capacidade de conduzir o interesse comum, mobilizando a população e tirando dela o seu melhor esforço, tendo em vista um objectivo comum, necessariamente de médio e longo prazo. Francisco Sá Carneiro dizia que “os portugueses têm o direito de saber, naturalmente, para onde vamos e quando chegaremos. Ou seja, têm o direito de exigir aos políticos que se entre no caminho da resolução efetiva dos problemas nacionais, sem o oportunismo de novas políticas de pura conveniência partidária ou pessoal”. Estando plenamente de acordo, sou bem mais exigente no papel dos cidadãos requerendo que eles se mobilizem, estejam atentos e participem nos destinos do seu próprio país: chega de enganos! A política que vale a pena é a que não tem medo de falar o que está certo, com convicção, não tem medo de o fazer apertando a mão e olhando nos olhos dos seus interlocutores, não tem medo da rua e de ser questionado, porque tem a certeza da sua vida limpa e de ter dado sempre o seu melhor esforço, e apresenta isso como garantia de que aquilo que diz é a sua visão de um tempo justo. A política que vale a pena é aquela que não abre excepções e trata todos por igual, porque percebe que a excepção é o início do fim da mobilização. A política que vale a pena é aquela que tem como foco a dignidade de vida das pessoas, tendo a liberdade como valor seguro. A política que vale a pena é aquela que coloca todo o seu esforço na construção colectiva de um país melhor. O que precisamos é de exemplo, limpo e justo. É esse o único caminho.

(artigo também publicado no re-visto.com)

 

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