Opinião – Los Diablos del Pueblo

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Francisco QueirósFrancisco Queirós

Bertold Brecht escreveu que “Há homens que lutam um dia, e são bons. Há outros que lutam um ano, e são melhores. Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons. Porém, há os que lutam toda a vida. Estes são os imprescindíveis.” No dia do 92.º aniversário do PCP recordo vários imprescindíveis, como Álvaro Cunhal de quem se comemora em 2013 o centésimo aniversário. Felizmente, para o povo português e outros povos que vão existindo estes raros homens e mulheres imprescindíveis.

Agora, na noite de 5 de Março, faleceu Hugo Chávez, presidente da Venezuela, a República Bolivariana. O presidente de um país que tínhamos aprendido a conhecer há décadas como um destino de emigração, de padarias de madeirenses, mas sobretudo uma terra de petróleo, de políticos corruptos, de milionários e de um povo imensamente pobre. Chávez pôs fim a essa velha Venezuela. A história é feita pelos povos, mas sem dúvida, há personalidades com um protagonismo especial na sua construção.

Eduardo Galeano escreveu um texto que por estes dias circula nas redes sociais. “A demonização de Chávez”. Segundo o escritor e jornalista uruguaio, “Hugo Chávez é um demónio. Por quê? Porque alfabetizou 2 milhões de venezuelanos que não sabiam ler nem escrever, mesmo vivendo num país detentor da riqueza natural mais importante do mundo, o petróleo.” Acrescenta o autor de “Memória de Fogo” e de “Livro dos Abraços”: Eu morei nesse país alguns anos e conheci muito bem o que ele era. Chamavam-lhe a “Venezuela Saudita”, por causa do petróleo. Havia 2 milhões de crianças que não podiam ir à escola porque não tinham documentos… Então, chegou um governo, esse governo diabólico, demoníaco, que faz coisas elementares, como pedir que Cuba envie médicos, que paga com petróleo. Mas esses médicos também foram fonte de escândalo. Dizem que os médicos venezuelanos estavam furiosos com a presença desses intrusos trabalhando nos bairros mais pobres. Na época que eu morava lá como correspondente da Prensa Latina, nunca vi um médico.

Agora sim há médicos. Galeano afirma ainda que “A presença dos médicos cubanos é outra evidência de que Chávez está na Terra só de visita, porque ele pertence ao inferno. O demonismo tem essa origem, para justificar a diabólica máquina da morte.”

Líder de um país em profunda transformação social, afrontando os milionários do seu país, nacionalizando a banca e as grandes empresas, desafiando os senhores do petróleo e o governo norte-americano, – enraivecido com as revoltas dos povos das Américas, desrespeitadoras do lugar a que a grande América lhes destina, um quintal das traseiras ao seu serviço – e diabolicamente elevando o nível de vida de um povo pobre, garantindo direito à saúde, à educação, à alimentação e sobretudo à sua dignidade, Chávez e os seus companheiros inevitavelmente teriam de ser demonizados. Há quem não perdoe quando um povo agarra o futuro com as mãos.

Para a história fica o exemplo de um homem que se traduz no canto de outro venezuelano, Ali Primera: “los que mueren por la vida no pueden llamarse muertos y a partir de este momento es prohibido llorarlos”.

Graças a Deus ou à vontade dos homens há “diablos” assim. E os povos, que não esquecem respondem: Gracias, comandante! E seguem adiante!

 

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