Opinião – AAC-OAF – Briosa – Académica: a estratégia do “Príncipe”

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LUCÍLIO CARVALHEIROLucílio Carvalheiro

Discute-se, por cá, em meio fechado – a Comunicação Social não entra – o futuro modelo de gestão da Associação Académica de Coimbra – Organismo Autónomo de Futebol (AAC-OAF).

Parêntesis. O Conselho Desportivo da “casa-mãe” AAC ignorou, pura e simplesmente, na atribuição dos prémios Salgado Zenha, o facto de a Briosa ter conquistado a última Taça de Portugal. Não terá que se retirar, do acontecido, um “sinal” de que só a possibilidade de discutir o modelo de gestão a desgosta, a desagrada, a desconforta, a ofende?

O assunto. Modelo de gestão, Sociedade Anónima Desportiva (SAD) ou Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas, Limitada (SDUQ,Ldª) ?

Sobre o modelo de gestão SDUQ,Ldª, é optar pelo mesmo modelo de gestão actual; a questão semântica, que altera a denominação, deriva do legislador retirar, para o caso, à Briosa “clube de futebol profissional” o privilégio, em sede fiscal, de ser considerada Instituição de Utilidade Pública; só isso, tudo o resto está conforme.

Sobre a escolha do modelo de gestão SAD será optar por um modelo de gestão conflituoso, porventura litigioso, a curto-médio-prazo.

Uma SAD, é bom relembrar, terá os seus órgãos sociais próprios – Mesa da Assembleia-geral, Conselho Fiscal ou Fiscal único, Direcção – e a sua contabilidade autónoma, ou seja, totalmente independente das congéneres da AAC-OAF.

Argumentar com uma possível “blindagem” versada em contratos para-sociais ou outros de igual jaez, do Capital Social, ou na esfera de acção da estratégia desportiva, ou na de investimentos, etc, é, como se diz acerca dos juristas: “que têm a verdade numa mão e a cabeça na outra” para, sempre, obterem ganho de causa. A “força das circunstâncias”, a cada momento, fará alterar toda essa ilusão de boa-vontade.

Dito de forma sucinta: ao universo dos sócios da AAC-OAF escapará o controlo da gestão da Académica, o que é de elementar previsão.

Por outro lado, quiçá, o mais importante é ter em atenção as consequências e as consequências das consequências, do modelo de gestão SAD, porquanto: é público o fracasso do modelo de gestão SAD em “clubes” de igual, ou parecida, dimensão (escala económica) desportiva da AAC-OAF: Feirense SAD, Salgueiros SAD, Boavista SAD, Naval SAD, União de Leiria SAD, para citar os exemplos mais paradigmáticos.

Ora se toda esta enumeração de casos concretos, independência da gestão SAD e os casos práticos de fracassos do modelo, não bastassem e bastam, acrescento: haverá encaixe de “dinheiro vivo” na hipotética constituição de uma SAD Académica? É minha convicção que não. As Instituições Públicas, Câmara Municipal de Coimbra, Universidade de Coimbra, Politécnicos de Coimbra, “Casa-mãe” AAC, outras ainda, já afirmaram, que se fosse esse o caso, só subscreveriam, simbólicamente – “noblesse, oblige” – o mínimo dos mínimos de acções.; o tecido empresarial do Concelho e Região, idem, idem.

Então: Quem restará para investir na SAD? Uma empresa dedicada à gestão de carreira de jogadores, a exemplo do que acontece com o Estoril-Praia SAD detendo mais de 75% do capital social? Ou, o caso mais plausível, ser o maior credor, a título individual, da AAC-OAF, todavia, mesmo assim, não haverá entrada de “dinheiro fresco”.

Daqui resulta claro que o manejo do comando SAD permite que não seja difícil conceber, prever, que a simples detenção do poder por um accionista individual, entre eles maioritário, o transforme num “Príncipe” com poder absoluto, vitalício se o quiser, a dirigir, a governar, a Briosa. Aliás, já tivemos uma experiência análoga aquando da Presidência do saudoso Dr. João Moreno; foi público e notório que quem sempre decidia e mandava, foi quem aportava fundos financeiros – não cuido, aqui, avaliar o mérito ou demérito da proveniência do fluxo das verbas – mas relevar que ao Dr. João Moreno só lhe cabia a função de fazer “o papel” de figura protocolar em apresentação pública da instituição.

Mais. Uma SAD, a existir, não terá registo de admissão ao “culto Académico”, nem controlo de identidade Briosa, nem critério exterior – universo dos sócios da AAC-OAF – que possa distinguir o ACADÉMICO convicto do agente que se insinue.

Ora, como diz o poeta “como é por dentro das coisas que as coisas são”, seja-me permitido colocar em evidência que não devemos erguer o enorme epitáfio sobre um passado da Académica, tal como a conhecemos e vivemos, enterrando o seu futuro.

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