Eleito no passado dia 13, o novo bispo de Roma Francisco é o 266.º Papa da Igreja Católica e actual chefe de estado do Vaticano. O jesuíta argentino Francisco Jorge Mario Bergoglio já deu sobejas provas de querer revitalizar e inovar à luz do Evangelhos e não segundo pseudo-reformas ao sabor de interesses, conveniências ou superficialidades. A coisa pior que pode acontecer à Igreja é, como disse, citando o teólogo De Lubac, o «mundanismo espiritual» que significa colocarmo-nos no centro de nós mesmos. Com um estilo peculiar manifestou preferir a simplicidade e a convivência franca e aberta procurando incutir a conversão interior dos corações empedernidos pelo egoísmo, o dinheiro, o prazer, o poder e a glória. A tudo isto contrapõe o amor, a verdade e a justiça como fizera Bento XVI. A simpatia e o apreço que as suas palavras e gestos têm conhecido fazem antever um pontificado gerador de frutos fecundos e de esperança para uma humanidade que parece ter naufragado por falta de arautos de mensagens sólidas e com conteúdos marcados pela autenticidade. Aos males de ordem política, social e religiosa não são dadas respostas e soluções que tenham em vista a salvaguarda da dignidade da pessoa humana quando tanto se fala dos seus direitos e privilégios. Não esqueceu, contudo, tantos e tão valiosos esforços de muitas instituições e de um grande número de voluntários que têm lutado com denodo por um mundo melhor.
O nome Francisco é já por si é uma mensagem de fraternidade, de paz, de amor aos pobres e de respeito pela natureza que o Poverello tão admiravelmente enalteceu no “Cântico das criaturas”. Apresentou-se como bispo de Roma e não como Papa, pretendendo assim mostrar que, como a tradição e a teologia ensinam, preside ao conjunto dos bispos de todo o mundo, a que se dá o nome de colegialidade episcopal. O Papa, bispo de Roma e sucessor de Pedro, «é o princípio e fundamento perpétuo e visível de unidade, tanto dos bispos como da multidão dos fiéis», lê-se na constituição “Lumen gentium” do Concílio Vaticano II.
Nos encontros com os embaixadores junto da Santa Sé e com os representantes das Igrejas cristãs não unidas a Roma, do judaismo e das outras religiões abordou temas muito actuais sobre o diálogo, a paz, a justiça e a cooperação entre todos num clima de fraternidade e de serviço, como tão claramente ensinam a doutrina social Igreja e o Vaticano II.
No Domingo de Ramos proferiu uma homilia rica de ensinamentos. Afirmou: «Jesus despertou tantas esperanças no coração, especialmente das pessoas humildes, simples, pobres, abandonadas, pessoas que não contam aos olhos do mundo. Soube compreender as misérias humanas, mostrou o rosto misericordioso de Deus, inclinou-se para curar o corpo e a alma». Prosseguiu o seu pensamento apelando à alegria que não nasce do facto de possuirmos muitas coisas, mas de termos encontrado uma Pessoa: Jesus, de sabermos que, com Ele, nunca estamos sozinhos, mesmo nos momentos difíceis, mesmo quando o caminho da vida é confrontado com problemas e obstáculos que parecem insuperáveis… e há tantos!». Falou depois da Cruz dizendo que o que conta não é a força terrena, mas a força de Deus, «que enfrenta o mal do mundo, o pecado que desfigura o rosto do homem». Ao tomar sobre si o mal, a sujeira, o pecado do mundo, incluindo o nosso pecado, lava-o com o seu sangue, com a misericórdia, com o amor de Deus.
Finalmente dirigiu-se aos jovens dizendo-lhes que eles têm uma parte importante na festa da fé que deve ser vivida com um coração jovem, sempre, pois com Cristo o coração nunca envelhece. Falou ainda das grandes feridas infligidas pelo mal à humanidade: guerras, violências, conflitos económicos, sede de dinheiro: «que depois – diz – ninguém pode levar consigo, deve deixá-lo» Concluiu lembrando que na esteira do Beato João Paulo II e de Bento XVI, também ele se põe a caminho, já perto da próxima etapa desta grande peregrinação da Cruz de Cristo, para no próximo mês de Julho estar no Rio de Janeiro.
Francisco irá certamente a propósito da liturgia pascal enriquecer-nos com a sua mensagem sobre aquela Cruz singular que redime tantas outras cruzes que são fruto do pecado e sobre a Páscoa da Ressurreição que é o âmago da vida cristã.