A cada dia que passa abate-se sobre todos nós um pessimismo crescente.
Ou porque os indicadores económicos e sociais são maus, ou porque os dramas humanos concretizados cada vez se aproximam mais, ou porque os monólogos justapostos, a que todos chamamos debates, se sucedem sem que deles resulte qualquer luz.
Sentimento que o nosso lusocentrismo e/ou eurocentrismo agravam significativamente.
Sabemos que as projecções mais recentes apontam para que a Europa cresça, no primeiro quartel do século XXI, a uma média anual de 1,44%.Mas também sabemos que o Mundo crescerá a uma média anual de 3,4% e que alguns países ou regiões apresentarão crescimentos mais interessantes. E qualquer cidadão informado sabe que este crescimento é concomitante com o investimento em infra-estruturas, nomeadamente em infra-estruturas de transporte.
Ora, se há actividade na qual Portugal e as suas empresas têm expertise relevante é exactamente esta. Sabemos planear e projectar, sabemos executar, sabemos explorar, sabemos como financiar e sabemos, até, erigir o quadro legal, regulatório e contratual, quer nos sistemas continentais quer nos sistemas anglo-americanos.
Infelizmente muitos daqueles que dominam estes saberes estão hoje a emigrar, indo vender a sua força de trabalho, mas também pagar impostos e quotas para a segurança social, em países em crescimento.
Será que não seria possível as empresas portuguesas das várias especialidades, com um forte apoio do Estado Português, juntarem-se para potenciar nos grandes projectos internacionais o know-how nacional nestas matérias?
Refiro apenas dois exemplos.
A Turquia acaba de lançar um concurso para construir, em Istambul, aquele que será o maior aeroporto do mundo, com capacidade para 150 milhões de passageiros ano e um investimento de mais de sete mil milhões de euros. A ANA, agora privatizada e capitalizada, os grandes construtores portugueses, os financeiros, com o suporte da nossa “diplomacia económica”, não poderiam agrupar-se para este projecto?
O mesmo se diga do investimento em ferrovia que vai ocorrer em África. Investimento que se estima que só nos próximos dez anos ultrapasse os cinquenta mil milhões de dólares.
É que termos emigrantes, por mais qualificados que eles sejam, ou termos empresas portuguesas internacionalizadas, faz toda a diferença!
E, já agora, talvez seja bom que todos interiorizem que exportar não é só vender para o estrangeiro “bens transaccionáveis “ produzidos em Portugal.
Os dogmas e as vulgarizações não são, nem nunca foram, boa companhia. Na política com os resultados conhecidos. Na economia, na sociedade e nos negócios, com os resultados que violentamente invadem o nosso quotidiano.