Opinião – Do passado, presente e futuro dos políticos

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19 bloco de esquerda 07 gmmCatarina Martins

A crónica do deputado do PSD, Nuno Encarnação, intitulada “Políticos podem ter passado?, é expressão clara de uma das mais graves patologias da democracia portuguesa. O filho do ex-Presidente da Câmara enumera diversos “passados de políticos” criticados na esfera pública para concluir que um político “Tem direito a errar (…). Mas tem sempre uma mira apontada”. Sem o mínimo desplante, Nuno Encarnação não condena os políticos com um passado menos limpo, mas a justiça e os jornalistas que os denunciam.

Ora, o passado dos políticos deve ser escrutinado pelos eleitores e pelo poder judicial. Exigem-no a democracia, a responsabilidade e o respeito pela lei. E o passado dos políticos deve ser marcado pela competência demonstrada por formação ou trabalho, pela ética, e por um respeito absoluto pela coisa pública.

Tem razão quem denuncia um passado construído nas juventudes partidárias como a distorção perversa de um sistema que promove pessoas sem contacto com a realidade e sem competência para o exercício de funções políticas. É este sistema, onde os jotas aprendem a mover-se em redes de compadrios, que tem promovido muitos dos titulares de cargos políticos do PSD, CDS-PP e PS.

Para eles, é natural a rotação entre cargos públicos e grandes empresas privadas. Na verdade, trata-se de uma promiscuidade inaceitável com o poder económico que destrói a democracia e inclui crimes graves como a corrupção.

Há ainda a conversão dos partidos em dinastias com direitos sucessórios. Seria deputado Encarnação se não ostentasse esse apelido? Que competências tem? De que iniciativa legislativa se orgulha enquanto exerceu a função? Trabalhou em prol do distrito? Para Coimbra, Nuno Encarnação não tem passado nem presente. O futuro será garantido numa empresa privada, por pertencer a uma dinastia do PSD, à falta de diploma obtido a um domingo ou por equivalências numa universidade privada. Há, de facto, uma mira apontada sobre os políticos. E é assim que tem de ser, numa democracia digna desse nome.

 

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