José Couto
Escrevo estas linhas ainda antes de se conhecerem os resultados da colocação de dívida pública nos mercados, mas olhando para o que aconteceu nas últimas horas, não é difícil adivinhar o que se passará nestes dias.
Não faltarão aqueles que rejubilarão com o regresso aos mercados anunciando a vitória da estratégia política preconizada pelo governo, a que responderão com tanta ou mais veemência os que defenderão que se tratou de uma operação sindicada e portanto ainda não completamente aberta aos mercados, a par dos que virão apontar a Irlanda, ou o apoio europeu, como o farol que indicou o caminho e suportou a operação, valorizando a tese de que foram os parceiros europeus, e não o nosso governo que conseguiu este feito.
Em boa verdade é um feito, e um assinalável! Ainda há uns meses ninguém acreditava que em Setembro de 2013 conseguíssemos emitir dívida nos mercados como previsto, e no entanto, oito meses antes, emitimos dois mil milhões de euros a cinco anos.
É uma vitória, é inquestionável, mas o percurso ainda é longo. Que este tipo de acontecimento não nos tolde a visão e não nos permita focalizar o crucial: a recuperação económica e a alteração do paradigma das obrigações sociais do estado, o que temos que temos que fazer para promovermos a competitividade e a sustentabilidade da economia do país.
A questão da Irlanda não entra aqui por acaso, e contribui muito para perceber se estamos a falar da luz ao fundo do túnel ou não, se é o princípio da recuperação, ou se para as empresas e famílias as coisas mudarão a partir de agora. É que há uma diferença fundamental entre os dois Países e a sua evolução: Portugal até corre o risco de colocar dívida a um preço inferior ao Irlandês, mas ainda nos é pedido um ajustamento de vários milhares de milhões de euros, que se prolongará para 2014, e a nossa economia continuará a contrair e a destruir empresas e emprego, quando na Irlanda já se iniciou uma trajectória de retoma e de crescimento.
Na parte que falta seria bom se conseguíssemos acompanhar a Irlanda, seria sinal do nosso crescimento económico, única fora de tornar sustentável o nosso esforço. De facto os progressos portugueses são indissociáveis dos irlandeses, mas é uma profunda injustiça não valorizar o esforço a que todos, empresas e famílias, têm sido sujeitos em Portugal, talvez pior é nada fazer para que esse esforço seja consequente.
Estamos a meio da ponte! Vinte e dois meses depois conseguir voltar aos mercados é uma vitória assinalável. Mas ainda só ganhamos uma das primeiras batalhas que nos faltam ultrapassar para vencer esta guerra…