Opinião – Piloto automático

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FERNANDO BOAVIDA

As tecnologias da informação e comunicação (TIC) estão tão entranhadas no nosso dia a dia que quase não nos apercebemos que muitas das coisas que vemos acontecer são resultado de processos quase totalmente ou mesmo totalmente automatizados.
Linhas de produção inteiras funcionam de forma automatizada, nas quais robôs são controlados por computadores, sob supervisão de um número muito reduzido de operadores. Comboios viajam constantemente sem condutor, em aeroportos e em linhas de metropolitano em várias cidades do mundo. A condução de veículos privados é, cada vez mais, apoiada em computadores e respetivo software. Equipamentos cirúrgicos de precisão são controlados informaticamente. Cada vez mais a nossa segurança depende de máquinas, de autómatos, de software, e menos de pessoas.
Os sistemas automatizados têm gradualmente provado que são seguros, quiçá mais seguros que os que são controlados por operadores humanos. Apesar disso e de todos os avanços tecnológicos, uma das áreas que ainda resiste à total automatização é a dos voos comerciais.
Uma grande parte dos acidentes aéreos deve-se a erros humanos. Nalguns casos, se os sistemas de piloto automático tivessem sido deixados operar normalmente, esses acidentes não teriam ocorrido.
A prova de que a tecnologia atual já permite efetuar voos sem piloto é o facto de isso ser já comum em muitos sistemas militares. Aviões não tripulados, comandados por operadores em terra, são cada vez mais utilizados em missões, críticas ou de rotina, com desempenhos que dificilmente seriam atingidos pelos melhores pilotos humanos. Sistemas de pilotagem automática são utilizados para controlar o voo de caças F-18, desde o momento em que levantam até que aterram em porta-aviões, sob as mais rigorosas condições atmosféricas. Nesses casos, os pilotos simplesmente assistem à aterragem, sem tocarem nos comandos.
Os próprios aviões comerciais já dispõem, em muitos casos, de equipamentos que permitem que todas as fases do voo sejam automáticas. É claro que ainda existem alguns desafios técnicos até que aviões comerciais possam efetuar voos sem piloto. Um deles é o da melhoria dos canais de comunicação com a aeronave, problema esse que não existe nos voos militares, já que estes sistemas têm canais de comunicação dedicados.
O maior e mais forte obstáculo é, no entanto, psicológico. Poucas pessoas aceitariam viajar num avião sabendo que este não teria piloto. É muito mais reconfortante saber que se partilha o destino com um piloto e um copiloto do que com um conjunto de sistemas computacionais e software, ainda que, na realidade, os pilotos sejam muito mais falíveis. No entanto, à semelhança do que está a acontecer com comboios e automóveis, será apenas uma questão de tempo. Afinal, no nosso dia-a-dia, não confiamos nós os nossos destinos a pessoas que tantas vezes se enganam?

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