Opinião – Cortar o mal pela raiz

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MÁRIO NUNESMário Nunes

A doença das palmeiras provocada por um escaravelho, que os técnicos dizem, faz definhar e morrer as árvores, tem sido o assunto ventilado nos últimos meses, tal como aconteceu com o nemátodo dos pinheiros e com a moléstia dos plátanos e dos ulmeiros. Milhares de árvores foram sacrificadas e outras continuarão a ser abatidas com o intuito de debelar o mal. Corta-se o mal pela raiz, o processo mais fácil, embora dispendioso, que as autoridades entendem ser o melhor remédio para extinguir a doença. Depois de cortadas segue-se a queima. Logo, desta forma arruma-se o assunto e os parques, jardins e florestas ficam mais vazios, podendo, em muitos casos, dar oportunidade aos gananciosos de aproveitarem terrenos para urbanização. Mais betão, mais negócios e mais alterações dos PDM. Tudo fácil de resolver. Esperamos que estes “maus” pensamentos não se concretizem na nossa região.

Em Coimbra é desolador e provoca tristeza, registar o corte de palmeiras centenárias em diversos jardins e parques citadinos, mesmo em espaços particulares, impressionando ver o nosso Parque Manuel Braga (a desarborizar-se), o jardim da Av. Sá da Bandeira (“enfeitado”, agora, com colunas dóricas) e a Solum na rotunda dos Bombeiros Voluntários, batizada pelas pessoas de rotunda das palmeiras, com o presente cenário. Olhando o Parque Dr. Manuel Braga despido de muitas palmeiras e plátanos (aquela alameda de extraordinária beleza paisagística, foi-se!), fica-se saudoso do tempo em que espelhava grandeza natural e conforto ao humano. E, torna-se mais triste este cenário, ao recordarmos os jardineiros e podadores, autênticos artistas, que aformoseavam mais o local, através de enxertos e ligações das espécies com a seiva a circular em toda a dimensão do conjunto, oferecendo túneis de incontestada beleza, autênticas abóbadas naturais. Mas, esses tempos passaram. Parece que o serrote e a máquina se impuseram como cura para todos os males ou mesmo para satisfazer alguém que não gosta de sombra na casa ou rejeita que as aves lhe cantem junto da janela, como tem acontecido em diversas zonas da Solum. Sem qualquer problema de consciência eliminam-se, também, árvores sem doença e que oxigenavam o ambiente. Que diria o Dr. Mendes Silva se visse a sua sementeira arborícola dizimada sem escrúpulos? Enfim, Coimbra e Portugal vão ficando mais pobres até nesta riqueza, pois não bastavam, já, os incêndios, agora são os homens a fazer desaparecer o arvoredo.

Perante este nosso desalento será lógico questionar os responsáveis: então, volvidos meses e anos, não houve investigadores biológicos e botânicos que criassem o antídoto para a moléstia? Deixam-se morrer as árvores e fica-se a aguardar que a epidemia passe? Foram equacionados os custos do abate em relação com a investigação? Há alguma política em curso? Ou não haverá cura? Os laboratórios das cidades universitárias com institutos botânicos e de história natural, que estudam a natureza, preservam as sementes e defendem as florestas, não podem dar uma ajuda para eliminar o flagelo? Ou continuamos a assistir à eutanásia nas árvores?

Coimbra, neste aspeto, fica, também, mais pobre e triste. O seu património natural desaparece, porque parece que cortar o mal pela raiz é, ainda, a melhor solução. Os nossos antepassados legaram-nos uma herança, que, infelizmente, deixamos perecer. Mais uma perda.

 

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