Depois de em 2009 se ter celebrado o 400.º aniversário das primeiras observações telescópicas de Galileu, evocam-se agora os 400 anos da morte do célebre padre jesuita Cristophorus Clavius ( 1538-1612 ) que era natural de Bamberg. Na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma teve lugar um congresso intitulado “Christophorus Clavius ( 1538-1612 ) na soleira da ciência: o seu magistério e as suas redes“ com a participação do cardeal Ravasi e de vários especialistas. Na Gregoriana guarda-se que no seu Arquivo Histórico um valioso espólio do famoso padre jesuita.
A conselho do grande filósofo e teólogo conimbricense Pedro da Fonseca, Clavius estudou no Colégio das Artes de Coimbra, provavelmente como discípulo de Pedro Nunes. Em Coimbra, observou o eclipse de 21 de Agosto de 1560 que durou três minutos e meio, o tempo de recitar o “Miserere“ e durante o qual se viam as estrelas, os pássaros andavam por terra e ele não conseguia ver os seus pés, tamanha era a escuridão. Tudo isto vem relatado no seu „Comentário à Esfera do Sacrobosco“. Tendo seguido para Itália frequentou o Colégio Romano em teologia e ciências naturais. Em Roma, teve também a sorte de observar o eclipse de 1567.
O distinto matemático e astrónomo manteve assídua correspondência com outros cientistas, nomeadamente com Galileu que muito admirava, ao contrário do que sucedia com Copérnico. Cultivou relações muito esteitas com os jesuitas cientistas da China, para onde enviou muitos objectos e livros. Outros companheiros seguiram o exemplo de Clavius como foram os casos de Matteo Ricci, Adam Schall von Bell e Ferdinad Verbiest, que no Imperério Clestial se destacaram como exímios sábios, em especial o primeiro. Falando das relações entre a ciência e a religião Einstein afirmou que a primeira será coxa e a segunda cega se ambas se ignorarem mutuamente. Mais explícito foi Max Planck ao dizer que ciência e religião não se opõem: precisam de dialogar para se completarem no espírito do homem que pensa seriamente”.
O que mais fama deu ao ilustre filho de Bamberg foi o calendário gregoriano que elaborou a pedido do Papa Gregório XIII e que viria a substituir o calendário juliano que estivera em vigor desde o tempo de Júlio César. Na Biblioteca Vallicelliana de Roma conserva-se uma cópia datada de 1603 do calendário escrito pelo próprio Clavius por ele doado (“ex dono auctoris“) ao cardeal Barónio, o mais ilustre entre os seus bibliotecários.
Evocar este preclaro jesuita leva-nos a falar do reputado Colégio Romano dos padres inacianos que se tornou um grande centro de estudo e investigação, tendo sobrevivido às tormentosas condições adversas por que passou a Companhia de Jesus, no qual se evidenciaram muitos nomes célebres como o notável Padre Secchi.
Calendário e tempo estão intimamente ligados, sendo profundo o significado que têm para a existência humana. No congresso a que nos referimos antes, o cardeal Ravasi apresentou um sugestivo texto sobre “Clavius e o Calendário”.
A humanidade sempre se preocupou com a medição do tempo que é o sinal inexorável de finitude e mortalidade. Por um lado, o tempo que nos é dado viver está contado, é marcado por amarguras e passa velozmente: «Embora vivamos 70 anos e os mais robustos até aos 80, o seu é fadiga inútil, pois passa depressa e nós voamos» (Sal 90, 10 ).
Mas há também uma visão optimista que se sobrepõe à anterior. Numa prece dirigida a Deus o salmista diz: «Ensina-nos a contar os nossos dias e alcançaremos um coração de sabedoria» (Sal 90, 12 ). E numa atitude de esperança alude à felicidade que Deus concede ao homem: «Dá-nos, Senhor, alegria pelos dias em que nos afligiste, pelos anos em que sofremos o mal. Manifeste-se aos teus servos a tua acção e aos seus filhos a tua glória; a bondade do Senhor, nosso Deus, esteja sobre nós; consolida a obra das nossas mãos, consolida-a, a obra das nossas mãos» (Sal 90, 15- 17 ).