“Julgo que não é curial (um partido) convidar uma pessoa e impor-lhe nomes” (com som)

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Nas duas anteriores entrevistas de balanço do ano de mandato disse que estava a “arrumar a casa”. As “arrumações” já acabaram?

Uma casa como a câmara vai-se construindo, e portanto é um trabalho que nunca acaba. A expressão “arrumar a casa” tinha um significado, que era, fundamentalmente, resolver os problemas pendentes graves que poderiam colapsar o exercício da autarquia. O maior deles era sem dúvida o saneamento financeiro e o endividamento a curto prazo e a impossibilidade prática que a câmara tinha para resolver e gerir os seus problemas imediatos. Para além desses, foram surgindo vários e múltiplos problemas, todos eles de grande dificuldade. Por exemplo, encarar os compromissos que tinham sido assumidos ao nível de projetos em curso, começando por um projeto megalómano, que era um parque de estacionamento subterrâneo, ou o Parque Desportivo de Buarcos. Entretanto, encontrámos a solução (financiamento) para o Paço de Maiorca, resolvemos a questão da empresa municipal Paranova, estamos em litígio com a Hagen, por causa da urbanização da Matiôa, e depois há múltiplas e pequenas questões que diariamente têm de ser resolvidas.

A vereadora Isabel Maranha Cardoso, na qualidade de administradora da empresa municipal Figueira Grande Turismo, apresentou, na reunião de executivo, uma proposta que derrotou a proposta do presidente da câmara. Isto denota falta de sintonia na vereação da maioria, e já não é a primeira vez que isso acontece.

Sou estruturalmente democrata e acho que as pessoas podem e devem apresentar e debater os seus pontos de vista e as suas perspetivas em relação aos temas em discussão. A câmara funciona como um executivo aberto. Algumas discussões, como a lei prevê, deviam ocorrer com alguma privacidade e discrição. Li a proposta da Figueira Grande Turismo, consultei os meus pares, fiz uma análise comparada de todas as autarquias que tinham empresas municipais de turismo e verifiquei que nenhuma optou por serviços municipalizados. Depois, tecnicamente, a proposta não é compatível, porque os serviços municipalizados estão vocacionados para o serviço estritamente público.

 

Que ilações políticas retira do resultado da votação?

 

Gerir com uma maioria relativa não é fácil. Procuro sempre consensualizar as decisões, quando elas fazem sentido. Nesta, não podia ceder, porque seria quase ridículo subscrever um documento (tendo dúvidas técnico jurídicas). O que exijo a quem apresenta os documentos é que esteja devidamente habilitado.

 

A vereadora Isabel Maranha Cardoso não estava devidamente habilitada?

 

A vereadora não consegue justificar – nem o documento consegue justificar – a manutenção daqueles serviços enquanto serviços municipalizados.

 

Mas foram aqueles serviços que foram aprovados.

 

Mas julgo que é um absurdo. A seu tempo veremos…

 

Este episódio afetou o relacionamento institucional entre os vereadores da maioria?

 

Não ficarei absolutamente insensível ao que se passou. Também não andamos aqui a fazer um clube de amigos. (…) Olhe, tanto me faz que seja divisão ou serviços municipalizados, porque vou continuar a desenvolver o turismo da mesma forma, mas acho que era desnecessário.

 

Quando as derrotas vêm do seio do executivo, devem ter um sabor mais amargo…

 

Não veio do seio do executivo, veio da apresentação de um documento da (empresa municipal Figueira Grande Turismo). Às vezes, clarifica…

 

Este episódio veio clarificar quem está consigo e quem não está consigo?

 

Veio, de alguma forma, dar-me um sinal nesse sentido.

 

As direções nacional e distrital do PS já manifestaram que querem que seja o candidato do partido às eleições autárquicas. Falta, no entanto, a Concelhia da Figueira da Foz pronunciar-se no mesmo sentido.

 

Essa é uma questão que deverá colocar à Concelhia do PS. Não sou militante do Partido Socialista.

 

Tem ido às reuniões do partido?

 

Vou a todas as reuniões e fóruns do PS para que sou convocado. Gosto de discutir ideias, não gosto de discutir pessoas. Vim para a política com esse objetivo, porque, ao contrário do que as pessoas dizem, eu acho que o que falta é ideologia, no sentido de se definir que opções queremos para o nosso país.

 

Está a referir-se ao facto da Concelhia estar a tentar impor-lhe nomes na lista à câmara municipal?

 

Julgo que não é curial convidar uma pessoa e impor-lhe nomes.

 

Vai recandidatar-se à Câmara da Figueira da Foz?

 

Face ao apelo que me foi dirigido pelas direções nacional e distrital do partido, sou candidato pelo PS. Se o convite foi feito ao mais alto nível da direção nacional e da Federação (de Coimbra), estou absolutamente disponível. E sou mais sensível às 12 mil pessoas que votaram em mim (em 2009). Em via de regra, quando um político exerce de forma aceitável um mandato, é sempre reconduzido pelo eleitorado.

 

Está portanto convicto que vai ganhar as próximas eleições autárquicas.

 

Não estou muito preocupado com isso, porque sou um bocado desprendido com a questão de ganhar ou perder, porque na democracia perde-se a ganha-se. Agora, os sinais que me chegam são os de que o eleitorado, compreendendo as muitas dificuldades que enfrentamos, confia em nós.

 

É candidato independentemente da Concelhia do PS querer ou não que o seja?

 

Essas são questões de procedimentos internos aos quais sou alheio. Estarei sempre disponível para me justificar perante qualquer estrutura do PS e prestar os esclarecimentos que entendam por convenientes.

 

Vai convidar Isabel Maranha Cardoso para voltar a fazer parte da lista?

 

Eu ponho a pergunta ao contrário: será que as pessoas sentem-se bem comigo?

 

Mas quem faz os convites é o candidato.

 

Naturalmente. Foi muito interessante fazer o trabalho com esta equipa. Definimos o nosso programa e vencemos grandes dificuldades.

 

Vai renovar o convite à mesma equipa?

 

Depende das circunstâncias. A apresentação e a defesa que fiz foram feitas em bloco. Portanto, virá comigo o conjunto de pessoas que me ajudou a desenvolver este programa, muitas delas foram os grandes promotores da ação executiva. Acho que é correto reconduzir toda a equipa.

 

Faz questão de escolher o candidato à Assembleia Municipal, depois do que aconteceu há três anos?

 

Lamento o que aconteceu há três anos e seguramente o eleitorado também lamenta. O mais dramático de tudo isto é o eleitorado eleger um presidente e depois os delegados (deputados municipais) não aceitarem a deliberação do sufrágio universal: isto é que é grave! É evidente que o candidato à Assembleia Municipal deve ser alguém que gere consenso no PS.

 

Não faz portanto questão de escolher o candidato?

 

Não faço questão. Nas anteriores eleições autárquicas também não fiz questão em escolhê-lo.

 

Mas Luís Tovim era o seu candidato.

 

Deram-me liberdade para escolher o candidato e eu escolhi-o. Deviam era ter respeitado a opção que fiz.

 

Está a falar do PS?

 

Acho que dois ou três deputados do PS não respeitaram, na Assembleia Municipal (a vontade do eleitorado), e isso é lamentável. Ainda por cima, não assumem! Deviam ter assumido publicamente que o tinham feito e por que razões o fizeram! A política não se deve fazer com atos soezes.

 

Tem consciência que a sua candidatura pode ser sufragada internamente, se houver mais do que um candidato a candidato à câmara, através de eleições primárias.

 

Essa é uma questão interna do partido que deve apreciar e ponderar.

 

Não o preocupa?

 

Não. No passado já tive problemas a esse nível e acabaram por ser resolvidos: prevaleceu o bom senso.

 

O que é que move a sua recandidatura?

 

A responsabilidade que assumi perante o eleitorado. A cidadania assume-se na plenitude e até ao fim.

 

Com que programa eleitoral vai apresentar-se nas próximas eleições?

 

Cidadania ativa, envolver toda a comunidade na busca das boas soluções.

 

Quais são as Grandes Opções do Plano do Orçamento para 2013?

 

As grandes opções do plano são o conjunto de obras financiadas praticamente a 100 por cento ou acima de 85 por cento. É o suficiente, e já temos um conjunto de obras que nos vai obrigar a um grande esforço e a um exercício orçamental muito difícil. (Entre as quais o relvado sintético do campo de treinos do estádio municipal), obra que já devia ter sido feita há 20 anos. É inadmissível que esta cidade não tenha uma infraestrutura para a prática de futebol minimamente adequada e que estejamos em vias de podermos perder as competições regionais! Coimbra inaugurou o 12.º relvado sintético e nós estamos a lutar pelo primeiro!

 

O segundo do concelho, com o de Bom Sucesso.

 

Não é municipal (é da junta) e devia ter-se tido o cuidado de investir onde há o maior número de praticantes de futebol. Eu gostaria de chegar à Cova/Gala e à Leirosa, onde também há equipas que disputam campeonatos regionais. E em relação a Bom Sucesso, bom seria que tivesse sido nos mesmos moldes, com financiamentos, e não apenas com dinheiros da autarquia cuja administração ainda está sob investigação!

 

Quando é que a revisão do Plano Diretor Municipal fica concluída?

 

Pode lançar essa pergunta a mais 300 municípios. O grande problema é a gestão das condicionantes (do ordenamento do território). Temos a cartografia feita, estamos a fazer as consultas e a levantar todos os pontos críticos para depois entramos na discussão com as entidades de gestão. Dificilmente estará concluída até ao final do mandato, até porque agora há uma entropia no sistema e mais uma vez vamos ter de alterar o figurino.

 

Recentemente, num debate, disse que estava moderadamente otimista em relação à conclusão da unidade hoteleira da Ponte do Galante. Mantém as mesmas reservas?

 

Infelizmente não tenho nenhuma razão que me permita estar mais otimista. O problema da Ponte do Galante é de financiamento.

 

Teme que fique ali um “elefante branco”?

 

Temo. E luto todos os dias para que isso não aconteça, junto das entidades bancárias financiadoras e junto dos promotores. Portanto, farei tudo o que estiver ao nosso alcance para que isso não aconteça (para que não se transforme num “elefante branco”). Neste momento estamos numa fase de reformulação do modelo porque a entidade financiadora exige um outro modelo de gestão. As obras avançaram muito pouco, nomeadamente na finalização de alguns espaços envolventes, mas o hotel já está numa fase de maturidade bastante avançada.

 

Já tem alguma solução para o Paço de Maiorca?

 

Para já, tenho a solução financeira, o que já não é mau. Vamos municipalizar o projeto e a partir daí sinto-me legitimado para procurar uma solução. Até lá dá-me a ideia que me estou a atravessar numa outra entidade. Vamos estabilizar a obra e depois veremos quais são as soluções, sendo certo que é um projeto complicado, por ser demasiado ambicioso e desajustado à realidade.

 

 

 

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