Há poucos dias, neste mesmo jornal, o Ricardo Castanheira defendia que se abandonassem soluções estafadas na escolha dos candidatos às próximas eleições autárquicas, em Coimbra. Ele, como eu, sabe o quanto a falta de ousadia tem condenado, em muitos aspectos, a vida política coimbrã e, consequentemente, o desenvolvimento da cidade.
Não posso, por isso, concordar mais com o Ricardo. Apesar de vivermos em austeridade, a partir de um certo ponto, é insalubre requentar comida do dia anterior.
Duas razões essenciais, que precipitam uma terceira, justificarão o actual estado de coisas: 1 ) a escolha de candidatos autárquicos começa a desenhar-se, normalmente, na disputa pelas lideranças partidárias, numa atmosfera, tendencialmente, populista e conservadora; 2 ) quando, finalmente, chegam as eleições, o rol de candidatos, chegados directamente do bas-fond, é tão grande que não daria para acomodar nas listas de todos os concelhos do Distrito (o que às vezes também acontece). A terceira razão, precipitada pelas duas anteriores, é que esta situação afasta da política activa a maior parte daqueles que poderiam protagonizar as tais candidaturas ousadas. Com efeito, sobra-lhes, fora da política, o respeito, reconhecimento e sucesso que, só com um estômago do tamanho de um autocarro, alcançariam na “dialéctica” partidária.
Na verdade, assim de repente, ocorrem-me cinco militantes socialistas que dariam excelentes (e ousados) candidatos à Câmara de Coimbra. Mas, com a mesma rapidez, percebo que nenhum deles o será.
A situação é anémica e, enquanto não for estancada a hemorragia, o problema não se resolverá com sangue novo.