Numa fase como esta é incontornável não falar do Orçamento. É um instrumento fundamental de política que por isso vai mexer com as pessoas, as suas expectativas e aspirações, em todas as aldeias, cidades e concelhos do nosso país. Tem a ver connosco, com todos nós. Daí a pertinência de se falar dele. A propósito do orçamento há opiniões que dão para tudo: que não foi tão longe quanto deviam as circunstâncias que o enquadram; que há uma redução ao nível da protecção e da despesa sociais; que é preciso antecipar os subsídios para reanimar o consumo interno; que há contas mal feitas com despesas e receitas inflacionadas; que o Governo não teve golpe de asa e só cumpriu o Memorando, etc. Claro que entre o 8 e o 80 vai um largo caminho onde há alguma verdade, talvez, mas também há demagogia e voluntarismo políticos.
Nesta linha de pensamento não se pode, também deixar de falar no Estado Social. E eu pergunto: quem é que asfixiou o Estado Social? A resposta é simples. A dívida, o empréstimo e os juros leoninos mal negociados. Ir por aqui dá uma discussão sem fim, porque há argumentos de um lado e do outro. Mas o que me parece mais importante é ver os partidos do arco do poder a discutirem política, a discutirem as pessoas, a dizerem que não é o mercado que comanda a vida.
Vê-los sentados à mesa, mais preocupados em construir o futuro dos seus concidadãos do que a esgrimir números.
O Estado Social é para mim uma questão civilizacional.
Por isso não pode haver recuos. Não se pode eliminá-lo.
Tem a ver com a Europa e o seu modelo e é até responsável pela conversão de milhões de eurocépticos.
Aliás, quem estiver atento observa que as circunstâncias fazem todos os dias a demonstração inequívoca da necessidade do Estado Social para minorar o sofrimento dos mais desfavorecidos. Não ver isto é não querer ver a grandeza dos sacrifícios que os portugueses estão a fazer.
Mas a sua densificação, face aos novos tempos, exige novas abordagens e interpelações pragmáticas. Temos de ser competentes e fazer desta grande reflexão um caminho para reforçar a coesão social. Daí eu não conseguir ver como é que o PS pode fugir ao convite que lhe foi feito para ajudar a repensar o Estado e os limites das suas funções. Não há, nesta altura do caminho, espaço para estratégias de ruptura entre o PS, PSD e o CDS sobre as grandes questões, que se perfilam no sombrio horizonte.
É preciso não ter medo de arriscar uma clarificação política.
Façam-se discussões substantivas. Vá-se ao essencial.
E neste desafio o PS não se pode esconder atrás de birras, não pode fazer ouvidos de mercador ao repto que lhe foi lançado. Os partidos são os caibros institucionais, que dão vida à democracia através do diálogo e dos consensos encontrados entre visões diferentes sobre o que é o interesse dos portugueses. Os cidadãos têm que ser o Alfa e o Ómega das soluções políticas. Por isso, é minha sincera convicção que o PS e o Governo têm obrigação de se entenderem.
O país dorido e sofrido está a olhar para o que o PS vai ou não fazer. E o nosso povo é sábio a analisar e a julgar os actos e omissões políticas daqueles em que votaram. Cá estaremos a esperar para ver!