Opinião – Saúde, negócio e turismo

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Massano Cardoso

Há uma tendência global para nivelar os comportamentos dos seres humanos, não em função de princípios éticos ou regras morais, mas sob a alçada de interesses pessoais e económicos.

Mesmo que as leis de alguns países sejam elaboradas com base em princípios éticos ou ditadas pelas regras morais, outros conseguem não ter legislação ou, então, quando a produzem, vão de encontro a desejos óbvios.

Quando surge esta discrepância é fácil de prever o que irá acontecer, os que vivem em países com legislação “superior” vão a esses paraísos e conseguem realizar os seus sonhos. No fundo, os paraísos não são só fiscais, há também paraísos na área da saúde.

A saúde tornou-se um dos maiores negócios da humanidade. O turismo da saúde constitui uma realidade em alguns países e, agora, face à tal discrepância legal, muitos deles sabem como abrir as portas para esse negócio. O turismo da saúde atrai, sempre atraiu e vai continuar a atrair.

Temos consciência da deslocalização de muitas indústrias para o oriente e o seu impacto na economia ocidental. Alguns desses países, caso da Índia, têm serviços e tecnologias da mais apurada; na área da saúde, por exemplo, estão a investir em grande prevendo-se lucros da ordem dos dois a três mil milhões de dólares por ano.

Uma das áreas em crescendo tem a ver com as “barrigas de aluguer”, uma prática realizada na Índia com muita “qualidade”, entendendo por “qualidade” os critérios médicos prestados por clínicas especializadas em todo o processo.

Um negócio no verdadeiro sentido da palavra, que permite às mulheres alugadoras proventos da ordem de vinte a vinco vezes o que conseguem auferir num ano. Com duas ou três gravidezes auferirão aquilo que nunca conseguirão em mais de meio século de vida laboral, isso se viverem tantos anos.

A forma como todo o processo está a ser analisado e discutido pelas autoridades médicas e governamentais do subcontinente indiano obriga a alguma reflexão.

Estamos perante uma zona que está a atrair cada vez mais ocidentais que aí encontrarão a solução para os seus problemas de forma rápida, segura e com elevadíssima qualidade. Neste momento, os indianos estão a estudar uma lei que vai regular esta atividade económica, com a criação de “bancos de barrigas de aluguer”, qual o número máximo de gravidezes, cinco, incluindo os filhos próprios, idade máxima, o número máximo de embriões a colocar nos ventres e outros aspetos de forma a retirar às clínicas envolvidas aspetos discricionários.

Assusta um pouco esta forma de estar, não só em caso de maternidade de substituição, mas também em negócios como a venda de órgãos para transplantação.

Há um fenómeno que se está a produzir em determinados locais do globo que, com o tempo, irá “contaminar” outros povos de forma lenta, acabando mais tarde ou mais cedo por se impor contra quaisquer regras morais ou princípios éticos, tudo porque o que manda são os desejos pessoais envolvidos em ganhos financeiros.

A vida, seja qual for o aspeto em que for observada, acaba por ser manipulada em função da economia ou da vontade individual, as quais acabam por “derrotar” muitos princípios éticos. O mundo tem tendência para se nivelar, mas sempre por baixo. O que fazer? Pouco, muito pouco, a não ser que haja respeito pela dignidade e bem-estar do ser humano, mas isso envolve a economia, o desenvolvimento sustentável e “boa” política. A ética, para se impor, necessita desses pressupostos, sem eles tem pouco valor.

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