Opinião – OCC, baluarte cultural de Coimbra

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Mário Nunes

Os bons tempos para a Cultura não se apresentam favoráveis. Se no governo de José Sócrates os cortes no orçamento do Ministério da Cultura limitavam o trabalho dos agentes culturais e das instituições e cidadãos devotados à causa cultural, com o atual governo o orçamento emagreceu ainda mais e reduziu o interesse na cultura ao transformar um ministério em secretaria, evidenciando alguma indiferença pela área cultural da nação. Aliás, a situação não deve ser muito saudável naquele organismo atendendo às convulsões que se estão a gerar, onde as críticas a nível nacional, as demissões e o mal – estar são indisfarçáveis, como podemos aquilatar das notícias veiculadas na comunicação social e vindas dos intervenientes culturais. E, se esta insatisfação permanece na instituição tutelar, naturalmente os dependentes, beneficiários, promotores e inovadores de iniciativas e atividades culturais recebem as consequências negativas da orientação governamental. As manifestações de desagrado no país contra esta política cultural espelham a angústia e o desencanto instalados, que concorrem, em cadeia, para o empobrecimento da cultura com o apagamento de associações, do desânimo dos cidadãos e para o afastamento da causa daqueles que fizeram da cultura o seu estatuto profissional ou vínculo ideal.

Com este cenário em vigor e sem se vislumbrar melhoria, torna-se imprescindível haver coragem e força para minorar os desequilíbrios orçamentais e promover as diversificadas ações que sustentam a cultura. Somente, alguma carolice associada ao amor e brio pessoais, mesmo um devotado bairrismo, em muitos casos, conseguirão manter a sobrevivência de muitas, embora haja um tempo em que a coragem fenece e a esperança se dilui, restando o desalento e a resignação que aniquilam o ideal e o querer de vencer. Há limites que ultrapassados inviabilizam projetos e condenam ao fim a existência institucional e particular.

Coimbra, felizmente e graças ao dinamismo e inconformismo de diversas pessoas e instituições, onde se situam a Drª. Emília Martins e a Orquestra Clássica do Centro, mantém, ainda, um ritmo saudável na cultura. A Orquestra, um baluarte identificador da atividade cultural citadina e regional, tem vencido as dificuldades e os Adamastores do seu trajeto e propiciado um permanente programa de ações que revelam a maturidade dos seus responsáveis e o amor que exteriorizam ao movimento cultural. Apesar de desamparados em subsídios estatais jamais claudicaram ou reduziram o “modus vivendi” à rotina e quietude. Parece que renascem quando as indiferenças de alguns “culturais” se tornam mais evidentes. Ora, neste cenário de dificuldades, a Orquestra Clássica do Centro, a viver do “velho” subsídio do Município conimbricense e de dois ou três mecenas para esporádicas atividades, é exemplo de tenacidade e perseverança, já que continua desconhecida para receber apoios da Secretaria da Cultura, logo órfã em relação às suas congéneres nacionais. E, este alheamento oficial é mais sentido ao analisarmos os programas postos, diariamente, em prática, que contemplam todas as camadas etárias e níveis culturais e económicos (a maioria gratuitos) e que concorrem com as agendas elaboradas pelas outras orquestras do país, aquelas que recebem chorudas participações financeiras. Ainda, recentemente, mostrou as suas capacidades com a realização dos VI Encontros Internacionais de Guitarra Portuguesa, um êxito total.

Concluímos fazendo votos para que o orçamento estatal inclua na “mala” dos subsídios uma “lembrança” para a Orquestra Clássica do Centro.

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