Opinião – O discurso impossível da inevitabilidade

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José Junqueiro

Esta quinta-feira, pela manhã, estava a ouvir a intervenção de Miguel Frasquilho no Parlamento. Falava sobre a diminuição da sobretaxa do IRS de 4 para 3,5% e a cada três palavras lá apareciam aquelas que o colocavam em transe: “baixa … baixou” … a sobretaxa do IRS.

Pretendia fazer passar uma ideia, a de que a sobretaxa do IRS tinha baixado. E assim, entre a anáfora, o pleonasmo ou a redundância lá vinha a falácia. Não resulta, porque a sobretaxa não existia, era de 0% e passou para 3,5%, subiu. O que vai descer é o dinheiro na nossa carteira. E assim vai a nossa vida política, sem verdade.

Há ainda quem não tenha percebido – e isso é transversal – que as pessoas querem respostas concretas e não palavras da retórica clássica. A arte de bem-dizer está ultrapassada pela arte de bem-fazer. E as pessoas estão atentas. Aliás, nunca estiveram tão atentas como agora.

O futuro que nos espera não tem de ser o inferno que vivemos, mas também não será um Olimpo que não existe. É e vai ser um caminho difícil, entre nós e no resto da Europa. As pessoas em geral e os jovens em particular não têm de se resignar ao discurso da “impossibilidade”, do “tem que ser assim”. Isso não existe.

O que realmente existe é a necessidade de mudar os efeitos da “fadiga política” das lideranças tradicionais. Nunca se viu nada como agora. Nada de ideologia, nada de valores. Toda a gente se lhes refere, mas apenas como ornato, flores de estilo. Já nem o partido político é suficiente. A corrida à inscrição em organizações de conveniência está na ordem do dia.

Portanto, alertava todos os eleitos e responsáveis políticos, transversalmente, mas com particular ênfase para os da maioria, de que, inevitavelmente, vamos precisar de mais tempo e de juros mais baixos.

Sugeria, pois, que dessem oportunidade ao crescimento e ao emprego, que ouvissem as pessoas e as oposições, que limitassem a austeridade e os excesso na fiscalidade, que tivessem a humildade ou grandeza de mudar e, para dar o exemplo, deixassem de proteger apenas “os seus” e não tivessem para os portugueses dois pesos e duas medidas ou o discurso impossível da inevitabilidade.

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