À beira da estrada, sentados num muro em Pombal, vergados pelas bolhas nos pés e pelo cansaço nas pernas, peregrinos do Porto que se dirigem ao Santuário de Fátima afirmam que é mais barato regressar todos os dias a casa de carro do que pagar um par de noites numa pensão.
“Em outubro, por causa da chuva, está fora de questão acamparmos. Isto é às ‘prestações’. Fazemos uma parte do percurso a pé, voltamos a casa todos juntos num só carro e, no outro dia, recomeçamos no mesmo sítio em que paramos”, explicou Anabela Ferreira, a caminho da peregrinação do 12 e 13 de outubro ao Santuário da Cova da Iria.
Quilómetros à frente, em Leiria, um enfermeiro de Coimbra, Francisco Abreu, explicou como faz da peregrinação a Fátima um hábito de passeio, um ato de fé e uma viagem por etapas semeada por várias manhãs, para garantir, à tarde, presença no local de trabalho.
“Estaciono a carrinha em Condeixa e sigo a pé até Pombal. No outro dia estaciono em Pombal e vou até Leiria. No dia 12 paro em Leiria e vou a pé, finalmente, até Fátima. A minha filha, a minha mulher ou o meu pai têm-me vindo buscar nestes dias”, esclareceu.
No primeiro dia de viagem lançou-se à estrada ao volante de uma carrinha. Estacionou em Condeixa-a-Nova, virou as costas a Fátima e regressou a casa a pé.
“Parece estranho, mas a verdade é que o caminho e o esforço são os mesmos. E dá-me mais jeito”, admitiu, acrescentando que, desta forma, ainda conseguiu ir almoçar a casa e cumprir mais um dia de trabalho.
“Não tenho tempo de serviço e tem de ser assim para conciliar a minha fé e os meus turnos”, reforçou Francisco Abreu, sentado numa paragem de autocarro no concelho de Leiria, enquanto aguarda pela boleia da filha, para voltar a Coimbra.
Bem perto de Fátima, de chapéus-de-chuva em riste, para se protegerem do sol, vendedores de peixe trocaram as bancas do mercado de Aveiro por uma peregrinação que começou com uma etapa em Buarcos, Figueira da Foz.
“Voltámos a Aveiro. Não havia muitos sítios para dormir e ficámos melhor em casa. Somos quatro e pudemos ir todos na mesma viatura na primeira noite”, sublinhou Ana Caçoilo.
Ao lado, o primo João Caçoilo frisou que, “a partir daí, de Buarcos, o caminho foi feito de uma só vez”.
No seio do grupo existem pés ensanguentados que testemunham o sacrifício, mas também palavras que querem denunciar a fé: “não nos importamos com a dor, porque somos peregrinos e só assim é que vale a pena”, sentenciou Rosa Celeste Fidalgo, que cumpre uma década de peregrinações.
A peregrinação de 12 e 13 de outubro ao Santuário de Fátima é presidida este ano pelo cardeal patriarca de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, José da Cruz Policarpo.
Subordinada ao tema “Recebestes de graça, dai de graça”, a peregrinação ficará marcada no sábado por um momento em que serão evocados os 50 anos do início do Concílio Vaticano II.
Agência Lusa