Opinião – República e progresso social

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Aires Antunes Diniz

Poucas vezes o país viveu uma tão dura prisão financeira como esta, que o faz adiar sonhos, não fazer férias, atrasar pagamentos de contas, enfim, entrar numa espiral de sacrifícios e retrocessos. É o que o Governo justifica em nome de uma crise indefinida e onde não se sabe nunca quando vai parar porque não se resolvem as suas falhas estruturais. De facto, os grandes bancos, que têm de cumprir novas regras, denominadas por agora de Basileia III, vão dizendo que o fazem para ultrapassar dificuldades, mas a história deste reforço das regras de prudência mostra um processo sem fim de reformulação, onde o número de páginas deste regulamento cresceu das 30 páginas do Basileia 1 para as 347 páginas de Basileia 2, estando agora o Basileia 3 com 616 páginas (“The Economist”, 8 Setembro de 12, p. 60 ). Contudo, as regras simples são sempre mais fiáveis, acrescenta o “The Economist”, pois muitas páginas significam sempre mais uso da memória e consequentemente mais esquecimento. Intuo. Esquecem-se infelizmente que o negócio bancário precisa de muita prudência e honestidade, transformadas em regras práticas que, parece, ninguém quer ver aplicadas e reforçadas.

Em Portugal, contudo tudo se resolve com um corte de quatro feriados, mas …só para o ano que vem… E entre estes está o 5 de Outubro que sempre significou progresso social em relação à Ditadura, inclusive a franquista, pois “Coimbra, que fora um baluarte eleiçoeiro do franquismo, tornara-se também um belo foco d’ideias republicanas. Quando em 1903 me matriculei na Universidade, havia naquela cidade um forte núcleo republicano que fazia seu quartel general do «Centro José Falcão».”

Infelizmente, o governo que temos, assim como o anterior, caracterizam-se pela inabilidade com que gerem esta situação de crise continuada, empobrecendo a população e fazendo falir cada vez mais empresas. Por isso, as que restam, sabem que esta “benesse” da nova TSU ao transferir parte do salário para os patrões, nada resolve.

Esqueceram-se só e simplesmente de ver como se pode aumentar a produtividade e empregar mais gente, mas que é a única forma de resolver os problemas da balança de pagamentos e de melhorar a rentabilidade das empresas. Estamos assim entregues à tacanhez da governação, que usa e abusa do poder de escrever no Diário da República, para nos empobrecer, impedindo-nos sempre de trabalhar embora diga, demagogicamente para trabalharmos. Mas, como se ninguém compra e muitos estão desempregados não há que fazer como se vê em tantos restaurantes vazios. Assim, o governo ao persistir nas mesmas medidas, apenas agrava a situação, obrigando cada um de nós a lembrar-lho, e só para que a vida aconteça como esperança e felicidade. Mas, não é só que temos de fazer!

 

1 Américo de Castro – Últimos anos da Monarquia: Memórias, Livraria Fernandes, Porto, 1918, p. 37.

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