Opinião – Política ou incerteza?

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Luís Parreirão

Muitos dos que actuam no espaço público e que, também por isso, condicionam o nosso pensamento e actuação, teimam em dizer que o país, todos nós, temos, conforme as perspectivas, ou um problema económico ou um problema financeiro, ou um problema orçamental, ou …

Acrescentam-lhe, em função da sensibilidade ou sabedoria individuais, decantações do tema com recurso a “technicalities” que o cidadão comum tem dificuldade em compreender.

E , desta forma, o espaço público – político, jornalístico ou do comentário – vai sendo ocupado pela macroeconomia ou, dito de forma mais correcta, pela vulgarização macroeconómica. Faz lembrar tempos historicamente recentes em que todos discutiam os clássicos do marxismo sem nunca deles terem lido uma linha.

Acontece que não há notícia – eu, pelo menos, não a tenho – que os problemas dos países e dos povos se resolvam a partir de parcelas da realidade, por mais relevantes que sejam. Ou se resolvem com definições de política, e com políticos, ou não se resolvem e a história ensina como acabamos em tais casos.

É urgente termos consciência que não é possível, como acontece hoje na Europa, ter países inteiros a viver na incerteza, nos diversos tipos de incerteza.

A incerteza de cada um dos nossos concidadãos desempregados, de uma violência individual brutal e profundamente destrutiva. A incerteza dos quadros qualificados que os leva a emigrar, a incerteza dos empresários que os leva a não investir e a não correr riscos. A incerteza dos cidadãos empregados que os leva a não consumir. Tudo isto produzirá efeitos de médio e longo prazo que perdurarão por muitos anos.

E esta incerteza, estas incertezas, só a política pode contrariar:

Com visões globais para a nossa vida colectiva que todos possamos entender e, por isso, escolher ou rejeitar de forma consciente ou esclarecida; com compromissos claros entre o Estado e os cidadãos; com calendários definidos e que todos cumpram; com absoluta transparência na informação sobre a “coisa pública” nas suas diversas dimensões.

Enquanto andarmos, isolada e casuisticamente, a discutir escalões de IRS, moratórias no agravamento do IMI, Bancos de Fomento, a honorabilidade dos políticos ou como se carrega um contentor, estaremos a agravar a incerteza, a afastar os cidadãos para as “margens” do sistema e a matar qualquer esperança.

É que sem política não há esperança nem futuro !

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