Aires Antunes Diniz
Anda o país todo em bolandas, soprado pelos ventos da crise, que a todos faz estreitar gastos, numa medida que os jornais dizem ser 3000 milhões de euros no primeiro semestre deste ano. Feitas as contas dá para cada português 300 euros, 50 euros por mês e nada disto comove Passos Coelho, nem o seu Ministro Relvas. O que não admira pois estudou pouco ou nada e tem raiva a quem o fez, pois os dois têm desempregado a esmo professores, envolvendo nisso até o professor Crato, que nunca disse tanta tontice junta como agora, errando até as contas dos alunos.
Entretanto, Relvas inventou a famosa Reforma das Freguesias para poupar 6,5 milhões de euros, o que dá para cada português 65 cêntimos. Paradoxalmente, fá-lo como se a economia e matemática só tivessem valia para calcular custos e nada tivessem a ver com benefícios ou proveitos. Está por isso o país todo em polvorosa com medo do futuro, pois nos obrigam a reduzir gastos e a degradar a nossa vida pessoal e coletiva. Nada se faz como o bom senso manda tal como se fazia há uns oitenta anos, quando António Fernandes Leitão, diretor comercial dos serviços municipalizados de Coimbra, informava que “em Coimbra já este assunto de há muito vinha sendo debatido, pois em 1905 o Sr. Charles Lepierre, então diretor dos Serviços Municipalizados do Gás, preconizava no seu relatório sobre os mesmos serviços a necessidade da autonomia destes serviços, e em 1912 o Doutor Marnoco e Sousa pugnava pela completa separação entre o município administrativo e o município industrial.” Agora só se propõe a extinção de freguesias, e sem se quantificar o que se perde, coisa que o governo não quis fazer. Nem sequer se preocupou em analisar quanto se ganha com a autonomia dos serviços municipalizados. Nem sequer quis pensar em os expurgar dos custos desnecessários da “clientela política” que os irracionaliza pela sua má gestão e pelas mordomias e “proventos”.
Só tenho visto da parte de quem quer cumprir a “Lei Relvas” a vontade de tudo fazer sem questionar os efeitos numas contas mal-amanhadas e ainda pior percebidas. Em tudo se revela o desejo de amesquinhar a nossa história local e nacional, que raivosamente desconhecem. Contudo, é inseparável da ocupação racional do território que uma má política agrícola fez desertificar, com efeitos evidentes na ocorrência catastrófica de incêndios. Apesar disso, obcecadamente, alguns só se preocupam em anexar territórios das freguesias vizinhas. Pura tontice também por não as conhecerem. Estamos assim convocados para recusar a lógica perversa da Lei Relvas, que nada resolve ao piorar a relação entre o poder local e os cidadãos, pois impede a atenção e o saber local necessário para que tudo funcione bem.
Mas, tal só acontece se o deixarmos. Sabemos!
1 – António Fernandes Leitão – As Federações de Serviços Municipalizados, tese apresentada ao Congreso Beirão, Coimbra Editora, Coimbra. 1929, pp. 10-11.