Luís Parreirão
A revista inglesa MONOCLE invadiu, no final da semana passada, as casas de todos nós ao dedicar o seu último número aos países de língua oficial portuguesa e, em especial, à importância que tem hoje, no e para o mundo, a língua portuguesa.
Diga-se, em primeiro lugar, que a MONOCLE é uma revista claramente dirigida às elites de todo o mundo, aborda assuntos pouco comuns e frequentemente antecipa tendências. Tive a sorte de a descobrir cedo e de ser seu assinante desde o número um, pelo que posso testemunhar com segurança a relevância que devemos atribuir à escolha deste tema para ser o tema principal da revista de Outubro – o mundo dos decisores políticos, económicos, culturais ou empresariais nunca mais vai poder ignorar a relevância dos lusofalantes e dos seus países.
A língua portuguesa une hoje países e comunidades relevantes em todos os continentes. Se é muito relevante a existência de oito países nos quais o português é a língua oficial, não o é menos a diversidade e relevância das comunidades de lusofalantes existentes no mundo. Dos EUA a França, do Canadá à Austrália, da África do Sul a Macau.
Estes países e estas comunidades tiveram historicamente, nas relações entre si, sobretudo a dimensão política e cultural.
Nas últimas décadas, e sobretudo na relação entre países lusófonos, a dimensão económica ganhou inusitada relevância.
Afigura-se-me que a dimensão a que urge dar um forte impulso é à dimensão empresarial.
Se conseguirmos colocar a língua portuguesa ao serviço da criação de empresas capazes de actuar em vários mercados, capazes de juntar recursos humanos, materiais e tecnológicos de várias origens e de transformar os vários mercados que a lusofonia representa, num único mercado, estaremos a dar, de novo, sentido à globalização que os portugueses iniciaram no século XV.
Esta é uma dimensão que depende da capacidade, iniciativa e ousadia dos empresários lusófonos. Aos Estados Lusófonos, todos, pede-se, com urgência, que preparem uma estrutura legal simples, clara, uniforme e estável que nos permita dar à dimensão empresarial da língua portuguesa a importância correspondente aos cerca de trezentos milhões de cidadãos que consomem na mesma língua.