Às duas e meia da manhã, fui acordado por um SMS que me dava conta da morte súbita de João Dixo.
Como é natural fiquei estupefacto, pois como convivemos frequentemente, nada, mas absolutamente nada, fazia prever que, de um momento para o outro, nos abandonasse. Um aneurisma ignorado e traidor foi-lhe fatal.
A única vantagem de ter sido assim é que a carreira de João Dixo, enquanto académico, pedagogo e artista foi sempre em crescendo; não teve tempo de conhecer o declínio.
Não será este o momento para analisar toda a sua obra.
É ainda um momento de comoção, mas que não pode, mesmo assim, deixar ser passado em branco.
Durante quase quatro dezenas de anos, partilhamos os mesmos espaços, a mesma cidade, os mesmos amigos, as mesmas ilusões. Uma amizade que nasceu nos bancos do Café Avenida, quando a ARCA estava ainda instalada na Rua Pedro Monteiro. As filhas, hoje umas senhoras, andavam por cima dos bancos aos saltos, enquanto nós os dois, e outros dos iniciadores da enorme renovação artística que a ARCA representou, nos entretinhamos a discutir sobre o Tudo e o Nada, e a idealizar projectos. Entre outros menores, um grande acabou por vingar: a Escola de Belas Artes e de Arquitectura que hoje está no alto de Lordemão.
João Dixo era um líder e foi o chefe de fila de uma mão cheia de grandes artistas que foram dando corpo a uma nova ou a várias novas correntes estéticas, que se firmaram na cidade, afastando as correntes bafientas tão ao gosto da burguesia instalada.
Foi um professor, mestre de muitos mestres que hoje continuam a sua docência, cá e espalhados pelo País, mas, ao contrário dos outros grandes artistas, foi também um gestor. Creio que a generalidade dos conimbricenses não tem ideia de quanto lhe devemos.
Como artista, a sua mestria, há muito, estava firmada, e elevou-o a um patamar que só uma minoria ínfima consegue alcançar.
Afável, disponível para ajudar tudo e todos, carinhoso como um pai para com alunos e professores mais jovens, pai e avô babado, amigo sincero.
João Dixo partiu cedo, é certo, mas os que tivemos a sorte de com ele fazer tantas décadas, lado a lado, temos, apesar da dor do momento, a satisfação de dizer que a sua vida valeu a pena.
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