Santana-Maia Leonardo
As reações escandalizadas da oposição e do bom povo português em torno da licenciatura de Miguel Relvas são mais ilustrativas do atoleiro moral onde se atascou o regime do que a forma ilícita como a licenciatura foi conseguida.
Que Miguel Relvas tirou a licenciatura fruto de um favor do Reitor da Lusófona, ninguém tem dúvidas disso, nem os próprios. Mas quantos pais não conseguiram igualmente favores idênticos dos professores dos seus filhos para que estes tivessem uma nota superior à que efectivamente mereciam para entrar na Universidade no curso pretendido? E quantos portugueses não ganham todos os dias processos judiciais à conta de depoimentos e documentos fabricados por amigos e conhecidos? E quantos não recorrem ou recorreram aos favores de gente amiga na polícia ou no Governo Civil para não ficarem sem carta de condução? E quantos não conseguiram arranjar emprego para os filhos ou para si através de um cunha ou de um favor partidário? Já se esqueceram das verdadeiras nomeações em que se transformaram todos os concursos públicos de pessoal, de obras públicas e para fornecimento de serviços que foram sendo abertos por esse país fora? E quantos não gozam férias e fins-de-semana alargados a troco de um favor de um médico amigo que lhe passou o atestado respectivo? Portugal é um país profunda e estruturalmente corrupto onde até as pessoas sérias, para sobreviver, têm de pactuar com esquemas e cometer ilegalidades.
Miguel Relvas pode não ter vergonha na cara mas, desse ponto de vista, é, pelo menos, um ministro que representa bem a maioria dos portugueses. A nossa democracia está, hoje, profundamente corrompida e gravemente doente. Todavia, esta geração de políticos, que teve em José Sócrates o seu expoente máximo e de quem Miguel Relvas é um lídimo representante, não nasceu de geração espontânea. Foi semeada e formada, há trinta anos, pela geração de Mário Soares que, como faz questão de nos recordar cada vez que abre a boca, é, sem qualquer sombra de dúvida, o pai da coisa.
O FASCISMO É A IRRACIONALIDADE
Fico verdadeiramente estupefacto que os mesmos jornalistas, comentadores e jornais que se insurgiram contra a detenção e extradição para os EUA de George Wright, terrorista que fugiu de uma prisão norte-americana na década de 70 e foi recentemente capturado em Portugal, exijam agora a detenção e extradição de Lazslo Csatary, um criminoso de guerra nazi condenado à morte em 1948, e que conta actualmente 97 anos de idade.
Por muito hediondos e repugnantes que tenham sido os crimes cometidos por Lazslo Csatary e não tenho qualquer dúvida de que o foram, a verdade é que não aceitável, do ponto de vista ético e moral, que se faça pagar um homem de 97 anos de idade por crimes que cometeu quando tinha apenas 20 anos e por uma simples razão: o homem que cometeu os crimes já não é o mesmo que iria cumprir a pena.
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