Opinião – O lado B

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Gonçalo Capitão

Tenho para mim que é um fado português olhar sempre o “lado B” (ou seja, o lado negativo ou alegadamente oculto) das coisas.

Somos desconfiados por natureza e invejamos o sucesso alheio, em lugar de apostarmos na nossa força interior e de cultivarmos o mérito como pedra de toque das nossas vidas.

Descanse, porém, o leitor, pois infelizmente para a minha bolsa não me sinto capaz de escrever um daqueles livros de “aprofundamento espiritual” que vendem como castanhas nas “fnaques” de hoje…

Penso, isso sim, em coisas bem mais comezinhas. Desde logo, na mais recente decisão da Liga de Clubes que decidiu proibir o empréstimo de jogadores entre clubes do mesmo escalão; ilustrando a coisa, tal faria com que Adrien, Cédric, Abdoulaye e David Simão não tivessem jogado na Briosa na época transacta, estivesse a medida em vigor.

Com toda a sinceridade, soa a mais uma decisão medíocre e tomada com o cotovelo que dói pela maioria que elegeu o actual Presidente da Liga, que, aliás, tentara aprovar de supetão o alargamento do escalão primodivisionário com o campeonato em curso. Chumbada esta medida, fica a sensação de que a nova asneira é do estilo “não me deixas entrar, sais tu!”. Como alguém teve o bom senso de evitar uma medida que tornaria a nossa liga menos sustentável financeiramente e mais penosa desportivamente, cava-se ainda mais o fosso entre os clubes abastados e os que usavam os empréstimos como forma de valorização da equipa, mas também como oportunidade de formar o atleta.

Havia, diga-se, um meio-termo: poderia limitar-se o número de jogadores a receber por empréstimo e/ou fixar um limite etário para que fossem jovens, ou até mesmo proibir que jogassem contra a sua equipa de origem. Mas, não!… Os alegres destruidores do futebol luso não podiam ficar a meio caminho…

Consequências?!… Muitos valores portugueses que encontravam no empréstimo uma forma de evoluir e promoverem-se (dos quatro nomes que citei da Briosa, só um não é português), como as equipas B não chegarão para todos e a maioria dos clubes não terá equipa B (a despesa é colossal), emigrarão para ligas menores como a grega, a cipriota, a romena, a búlgara ou a turca.

Acresce que o recurso a jogadores estrangeiros (mormente brasileiros) de segunda e terceira linhas passará a ser uma maneira acessível de preencher as equipas (lembro que, entre prata da casa e empréstimos, se a memória me não falha, a Académica entrou no Jamor com nove portugueses).

Mais do que a medida em concreto, pois para tudo haverá solução, contesta-se o tempo (quando as equipas regressam já ao trabalho e contavam já ter parte do trabalho adiantado) e o espírito tacanho e achincalhante com que se governa a Liga de Clubes.

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