No próximo dia 23 a diocese de Lamego prestará em Cepos (Arganil) uma significativa homenagem ao seu antigo bispo, D. João da Silva Campos Neves, na circunstância da passagem do 50.º aniversário da inauguração do Seminário Maior daquele bispado, que se ficou a dever à clarividência e dinamismo daquele prelado. A fim de evocar a sua memória, o actual bispo lamecense, D. António José da Rocha Couto, decidiu organizar uma excursão à terra natal daquela insigne personalidade para ali lhe ser prestada uma homenagem. Do programa da visita consta uma conferência sobre “D. João da Silva Campos Neves: recordar e agradecer” pelo Padre Luciano Moreira, a celebração da Eucaristia pelo bispo de Lamego e uma visita ao Piódão.
Nascido em Cepos (Arganil) a 31 de Julho de 1889, o bispo Campos Neves estudou no Seminário de Coimbra onde conclui os estudos teológicos em 1910, sendo ordenado sacerdote na capela do Santuário de Nossa Senhora de Lurdes (Quinta da Costeira (Carregosa, Oliveira de Azeméis), a 23 de Dezembro de 1911, por D. Manuel Correia de Bastos Pina, o grande bispo conimbricense ao tempo da República e a quem Coimbra tanto deve.
D. João exerceu na Igreja de Coimbra vários cargos relevantes e foi beneficiado e cónego da Sé de Coimbra, vogal da comissão diocesana do Centro Católico, director da Congregação Académica de Maria Imaculada e colaborador activo da pastoral no C. A. D. C.
Uma faceta importante da vida de Campos Neves foi o trabalho de beneficiação e promoção do Santuário do Senhor da Serra, tendo ainda em 1920 escrito o precioso livro “O Divino Senhor da Serra de Semide”. O templo fora erguido pelo bispo-conde D. Manuel Correia de Bastos Pina que encomendou o plano da obra a António Augusto Gonçalves. Decisiva foi a colaboração da Escola Livre das Artes do Desenho de Coimbra e da Escola Industrial Brotero sob a orientação de Mestre João Machado. Intervieram também o Prof. Lapierre e Abel Eliseu, o célebre pintor de Coimbra. Recordamos aqui com saudade a valorização que ao Santuário prestou o Padre António Pedro dos Santos.
A 27 de Maio de 1931, o bispo oriundo de Cepos foi nomeado bispo titular de Vatarba (antiga sede episcopal da Numídia, Argélia) e auxiliar do patriarcado de Lisboa. Possuidor de excelentes dotes oratórios e impregnado de uma grande espiritualidade, entregou-se a múltiplas actividades pastorais, movido pelo desejo de promover a revitalização da vida cristã, tão abalada durante os tempos agitados posteriores a 1910. Ficou conhecido como “O Bispo das Estradas” pelas frequentes visitas que fazia às paróquias do patriarcado.
Em 29 de Outubro de 1948 foi transferido para a diocese de Lamego, uma das mais antigas do País. Também ali se revelou extremamente fecunda a sua acção pastoral. Além do Seminário Maior que construiu de raiz na Quinta da Rosa, nome da ilustre senhora que doou o terreno, procedeu também em 1957 à reconstrução do Seminário Menor de Resende que fora iniciado pelo seu antecessor. E apoiou a edificação de várias igrejas e capelas, residências e salões paroquiais e adquiridos passais para os párocos mais pobres. Fundou a Gráfica de Lamego e a “Mútua do Clero” de S. José para assistência aos sacerdotes idosos e doentes. Publicou muitos documentos, todos eles destinados à estruturação diocesana e à dinamização pastoral.
A 27 de Maio de 1962, a diocese de Lamego prestou-lhe uma grande homenagem, por ocasião das suas bodas de ouro sacerdotais e do trigésimo aniversário da sua ordenação episcopal. O Papa João XXIII concedeu-lhe o título honorífico de bispo assistente ao sólio pontifício e seu prelado doméstico. D. João participou em várias sessões do Concilio Vaticano II e foi presidente e vogal da Comissão Episcopal de Liturgia.
No dia 2 de Fevereiro de 1971, com 81 anos, leu uma comovente saudação de despedida na Sé Catedral de Lamego, passando a governação da diocese para o seu sucessor, D. Américo Henriques. O ilustre filho de Cepos faleceu a 2 de Março de 1980 na Casa de São José. Os seus restos mortais repousam na capela-mor da Sé Catedral de Lamego. O preito de homenagem a D. João traduz a louvável ideia de evocar os grandes arautos do Evangelho que se distinguiram pela sua entrega total à causa Igreja nos seus vários quadrantes. É altamente salutar perpetuar a sua memória e dela extrair as muitas lições que encerra. Ao aproximar-se o início do Ano da Fé ganha mais acuidade a evocação que em boa hora será feita de uma das personalidades cimeiras da história da Igreja lusitana do séc. XX. O acto tão carregado de significado será também motivo de enorme regozijo para a Igreja de Coimbra, a comunidade de Cepos e, naturalmente, para a sua família, nomeadamente os sobrinhos José, André e António, que sempre recordam o tio com vivos sentimentos de viva gratidão e saudade. A eles se associam nesta hora jubilosa os seus muitos amigos e admiradores.