Luís Parreirão
Portugal vive, tal como a Europa, momentos de grande dificuldade. Dificuldades que afectam os sectores público e privado com igual violência.
O Estado, as empresas e as famílias estão hoje confrontados com problemas e incertezas difíceis de ultrapassar.
Ou porque o Estado não consegue já satisfazer as suas necessidades e as dos cidadãos, necessidades essas que, é bom referi-lo, são imanentes ao modelo de sociedade em que há décadas optámos por viver.
Ou porque as empresas não conseguem satisfazer os seus compromissos nem, tão pouco, encontrar alternativas a um mercado doméstico que estiola.
Ou porque as famílias vêem o seu rendimento disponível baixar drasticamente, quando não desaparecer, e, com ele, o resultado de vidas inteiras de trabalho.
E se é verdade que só à escala europeia é possível encontrar soluções para a generalidade das questões que se colocam hoje à nossa sociedade, tal não deve conduzir-nos para uma posição passiva ou demissionista.
Andou, por isso, bem o primeiro-ministro ao considerar que “ o Mundo Lusófono se deveria constituir como uma potência global sendo tal aliança geradora de inúmeras vantagens recíprocas para os empresários e cidadãos, assente numa sólida relação política, social e empresarial”.
Na parte do trabalho que só nós podemos fazer o espaço da lusofonia – o espaço económico da lusofonia – deve ser considerado uma prioridade para a economia e para as empresas portuguesas.
Importa, no entanto, ter bem presente que estamos a falar de um mercado, ou melhor, de mercados de enorme dimensão sobretudo quando comparados com Portugal e com a dimensão das nossas empresas.
Há que estar consciente que as empresas que hoje operam no Brasil, em Angola ou em Moçambique são das maiores do mundo nos respectivos sectores de actividade, e que é com elas que as empresas portuguesas vão competir.
Acontece, porém, que se em Portugal nunca existiram empresas de grande dimensão, a situação tem vindo a “piorar” nos últimos anos. De facto, de 1986 para 2009 o número médio de trabalhadores por empresa passou de 17,72 para 8,89. Enquanto em 1986, 8,5% das empresas tinha 31 trabalhadores, ou mais, hoje apenas 4% das empresas ultrapassam tal número.
Ou seja, quando os mercados se globalizam, aumentam de dimensão e de exigência, parece que nós estamos a fazer o caminho inverso e, portanto, a ter menos condições para competir.
Pode e deve existir um “Mercado Lusófono” mas para que ele também seja português é necessário que as nossas empresas e, sobretudo, os nossos empresários, assumam uma nova atitude. Agrupando-se, fundindo-se, fazendo parcerias – seja o que for que lhes dê a escala e a dimensão que este desafio, para ser ganho, exige.