“Coimbra acha até um pouco possidónio promover-se”

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Apesar de lhe ter sido retirado o apoio da secretaria de Estado do Turismo, o Festival das Artes de Coimbra – este ano dedicado às “Viagens” – resiste e, na opinião de José Miguel Júdice, até oferece um cartaz com mais qualidade.

Que público vem ao Festival das Artes de Coimbra?
No ano passado fizemos um inquérito que demonstra que cerca de 35 por cento das pessoas vinham de fora. Ainda há pouco encontrei um senhor já com uma certa idade que vinha aqui passar o fim de semana e me dizia que a mulher já não vinha a Coimbra desde criança para ver o Portugal dos Pequenitos.
Nós coimbrinhas achamos que Coimbra é o centro do mundo e que 10 milhões de portugueses não pensam noutra coisa que não em Coimbra. Mas não é verdade.
Infelizmente, Coimbra promove-se muito mal.

Porque acha isso?
Coimbra é uma cidade muito aristocrática. Há a aristocracia da cultura, da universidade, etc. e acha um pouco de mau gosto exibir-se. Acham que as pessoas devem vir a Coimbra, apesar de Coimbra não dizer “venham”. Isto é um reflexo de aristocracia. Os aristocratas não andam a fazer propaganda deles próprios… querem estar sossegados.
Coimbra promove-se mal. Acha até um pouco possidónio promover-se. Que é uma coisa de gente de pouca categoria. E isso paga-se.
O Festival das artes tem ajudado?
Este festival contribui para que as pessoas venham a Coimbra, não só na altura do festival. Algumas pessoas não vêm na altura do festival, mas acabam por vir passar o fim de semana.
Ao festival vêm melómanos, de propósito para “aquele” espetáculo. Há pessoas como eu que gostam, mas não são especialistas e vêm porque gostam de ver e ouvir coisas bonitas. Há pessoas que gostam de jazz e outras que gostam de música barroca…
A nossa aposta é que pessoas que vêm ver a exposição do [Nélson] Garrido ou da Marta Pedro, portanto, que gostem de fotografia, ou outras que gostam de cinema, também vão ver a música, etc.

É festival que obriga também as pessoas a viajar um pouco…
Há dias houve uma inauguração na Casa das Caldeiras. A maior parte das pessoas que ali estavam nunca ali tinham ido.
O Centro das Artes Plásticas é um espaço lindíssimo e estou convencido que muita gente de Coimbra nunca lá foi. Conheço muita gente de Coimbra que nunca veio à Quinta das Lágrimas…
O tema foi escolhido a propósito das nossas viagens de descobrimentos. Hoje vivemos também tempos de águas muito turbulentas…
Sim… e de viagens também. Porque é que os portugueses foram para o mundo? Uma das razões é porque eram pobres. Porque a terra não chegava para alimentar as pessoas.
A expansão ultramarina portuguesa foi uma história de batalhas, de escravatura, de religião, de coisas maravilhosas e de outras horríveis… mas também foi de viagens e de emigração.
Hoje muitos portugueses também estão a viajar. Estão a emigrar para trabalhar.
Os 440 anos d’Os Lusíadas foi um pretexto, mas eu podia dizer que não tinha nada a ver com o Camões e sim com as dificuldades das pessoas em deslocar-se.
Sair para um fim de semana ali ou acolá é sempre uma viagem agradável. Mas uma pessoa sair para ir trabalhar noutro país, deixando a sua terra novo, muitas vezes sem saber outras línguas, porque não consegue aqui o sustento para os seus é uma coisa muito dolorosa. Estamos a ter essa viagem outra vez. A história de Portugal atualmente está a fazer-se outra vez de viagens.

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