Opinião – Rio+20, e agora?

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Ricardo Castanheira

Ouvi, esta semana, no Rio de Janeiro, o seguinte comentário: “Há 20 anos, na “ECO92”, a Europa dominou a agenda ambiental, hoje não se pronunciou sequer sobre o desaparecimento dos icebergs, porque o foco é outro afundamento, o da Grécia”. A verdade é que as agendas regionais e a atual crise económica deixaram para segundo plano os objetivos centrais da Conferência das Nações Unidas sobre Sustentabilidade. A economia real impôs-se à “economia verde”.

As principais potências mundiais acabaram por participar de forma tímida no debate e, consequentemente, os demais países – sobretudo os emergentes – reagiram de igual modo. Em suma, o desinteresse de uns justificou a inépcia dos outros. Postura preocupante.

O Secretário-Geral das Nações Unidas alertou várias vezes para o fato de podermos não ter mais tempo para organizar a “Rio+40”, ou seja, em 20 anos os danos causados no ambiente serão (como em muitos casos hoje já sentimos) irreversíveis. Sinceramente, o clima diplomático era de algum otimismo, porém custa-me aceitar pacificamente que nestas conferências as declarações finais sejam boas em si mesmo, apenas porque resultam da “arte do possível”.

Rever os modelos de crescimento dos países é imperativo não apenas porque gera as manifestas desigualdades sociais que conhecemos, mas igualmente porque têm sido feitos à custa de uma exploração desregrada e desproporcionada dos recursos naturais. A situação é de emergência real, todavia na agenda política a crise financeira e o desemprego deixam pouco espaço para o ambiente e sustentabilidade. O que é um erro, pois eles são concomitantes e não excludentes.

Enquanto isso, sabe-se já que a receita turística destes dias de Rio+20 na “cidade maravilhosa” é superior a 60 milhões de reais. Impressionante aporte! Porém, a verdade é que o Rio não estava preparado para receber este tipo de eventos globais. Não tem infraestruturas (hoteleiras, viárias, aeronáuticas,..) nem profissionalismo organizativo. As coisas acontecem porque têm de acontecer, a custo elevado e consumindo muito da paciência e do tempo coletivos.

É uma pena. O Rio tem todas as condições naturais, mas falta-lhe ainda o resto, que é muito. Vejamos agora como vai ser com a Copa do Mundo e, em especial, com os Jogos Olímpicos. O temor aumentou!

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