Opinião – Repúblicas de Coimbra em perigo de extinção?

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Mário Nunes

A nova lei das rendas tem provocado as mais diversas reações, tanto das associações de Inquilinos como das dos proprietários. Cada, na sua esfera de interesse, se movimenta à volta de um princípio milenar, aquele que norteia o mundo e é materializado no dinheiro e na sua multiplicação, princípio que trouxe a crise atual que amarfanha a maioria da população portuguesa.

Cada instituição – inquilino e proprietário – argumenta os “contras” da lei, sustentando as suas opiniões no mesmo patamar: custos elevados para os inquilinos na atualização dos arrendamentos e reduzida percentagem de aumento da renda para os proprietários face às obras e impostos, acrescidos do desrespeito contratual de muitos inquilinos.

Em Coimbra, esta nova legislação por não atender (como devia) ao valor cultural e identitário de um número de imóveis, as Repúblicas de estudantes, tem suscitado um sonoro ruído e umas boas pinceladas de prosa crítica, presentes na natural preocupação dos residentes naqueles espaços académicos e na comunicação social. Instalou-se uma expetante apreensão quanto ao futuro de um património de séculos, que parece querer “desmoronar-se”, acompanhando, infelizmente, uma área ainda significativa da Alta e da Baixa (esta sim a precisar de obras urgentes), com extensão a alguns monumentos.

E, as Repúblicas de Coimbra que, também, são monumentos históricos com diferentes funções, precisam de outro olhar. O legislador (quem sabe se estudou em Coimbra) não compreendeu que estes edifícios não albergam a habitual família, mas uma família com cidadãos de várias famílias, com objetivos semelhantes e outra missão a realizar. Por isso, será difícil entender a diferença entre República académica e casa de habitação?

Ao escrevermos sobre este assunto, queremos afirmar que estamos solidários com os repúblicos e que defendemos a sua causa. Pugnamos, há anos, pela defesa do património cultural da cidade (material e imaterial), desempenho ativo que forjou os dois Encontros sobre a Alta, dos quais nasceu a candidatura a Património da Humanidade, onde se encontram as Repúblicas. Vivemos, enquanto estudantes e durante cinco anos, numa casa da rua da Ilha, que embora não fosse designada de República, fazia daquele espaço uma casa familiar, semelhante às Repúblicas, acolhendo treze universitários das cinco Faculdades, que viviam em total ambiente académico.

E, estes (nós) estudantes tinham intercâmbio saudável com as Repúblicas da Alta, nomeadamente os Kágados, Baco, Pra-Kys-Tão, Galifões, Corsários das Ilhas, Bota-Abaixo e outras. E, semanalmente, ao sábado, havia na casa uma tertúlia com a presença de repúblicos, onde os residentes abordavam um tema que o “Mor” agendava para debate.

Neste entendimento, sustentamos que as Repúblicas, integrantes do dossier para a UNESCO, devem merecer das entidades oficiais e privadas – Câmara Municipal, Universidade, Associação dos Antigos Estudantes de todo o país, empresas, comércio e forças jurídicas, educacionais, culturais, sociais e económicas – uma postura de salvaguarda, porquanto a “exceção” à lei, conforme tem sido publicado na Comunicação Social, apenas garante cinco anos de precaridade.

E, depois? Coimbra exige a manutenção deste pilar da suahistória e identidade, lugar de lide e democraticidade, “parlamento” de ideias e de afirmação cultural. Quem é o estudante da Universidade de Coimbra que não defende as Repúblicas de Coimbra? Se sim, deve tomar, já, uma atitude na sua defesa.

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