Opinião – O dia seguinte

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Se há crítica que se pode apontar à maior parte das campanhas eleitorais, sobretudo dentro dos partidos políticos, é a sua excessiva pessoalização. Habitualmente e ainda que os candidatos procurem fugir a essa tendência, o mais fácil e (aparentemente) mais eficaz é alinhar as tropas em função de um belicoso confronto pessoal. E é isso que vai acontecendo, na maior parte dos casos.
Sucede que esta prática tem vários inconvenientes. Por um lado, coloca em segundo plano a análise crítica das propostas em jogo; depois, desvaloriza o papel do colectivo na concretização dos objectivos a prosseguir; e, por fim, compromete, quase fatalmente, os entendimentos pós-eleitorais.
Daí que o dia seguinte, após arrefecidos os respectivos ânimos, se caracterize, seja para os derrotados, seja para os vencidos, por uma imensa sensação de vazio. Como se tudo se esgotasse no climax da contagem dos votos. As hostes ficam, elas próprias, esgotadas. E a democracia fica, inevitavelmente, a perder.
O dia seguinte é, desse ponto de vista, mais importante do que tudo o resto. E para aqueles que, como eu, acreditam que a democracia não se esgota nas urnas, o dia seguinte é, aliás, quase tudo. O dia em que, paradoxalmente, é preciso contrariar aquilo que caracteriza a maior parte das campanhas eleitorais. Ou seja, colocar a substância da política em primeiro plano, discutindo documentos e propostas concretas; valorizar o papel do colectivo, que deve ser coeso, plural e competente; e conjugar na medida do possível, com paciência e uma grande dose de bom senso, as almas desavindas.
No rescaldo das últimas eleições internas no PS Coimbra (secções, concelhias e federação), o dia seguinte é, na minha perspectiva, tudo o que nos resta. Isto se não quisermos ficar cronicamente reféns do dia que passou.

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