Opinião – Nós os de Coimbra, Nós os da Académica

Rui Antunes, presidente do IPC

Quando se questiona alguém sobre quem é, obtemos como resposta a enumeração de grupos sociais a que esse alguém pertence: “sou português, estudei em Coimbra, etc.”

A cada um destes grupos está associada uma ideia – um estereótipo – que fornece ao interlocutor informação rápida sobre nós, do tipo “se é português, então deve gostar de fado …”, “se estudou em Coimbra, então deve ser da académica, …”.

Quer isto dizer que a nossa identidade enquanto sujeitos é antes de tudo a pertença a grupos. Todos temos várias identidades, isto é, incluímo-nos em vários grupos e tornamos relevante e saliente a pertença a um grupo em função do contexto e do valor emocional que esse grupo tem para nós. Por exemplo, identificarmo-nos como portugueses é, na maior parte dos casos, muito mais relevante quando estamos no estrangeiro do que em Portugal e ainda mais relevante se estivéssemos a assistir à entrega do prémio Nobel a Saramago.

É esta dimensão da identidade que tem um papel crucial na divisão do mundo, não apenas em “eu” e os “outros”, mas também em “nós” e “eles”.

Quando alguém é incluído no grupo dos “nós” isso significa que passamos a valorizar nessa pessoa aquilo que nos une e deixamos de dar relevo àquilo que nos separa, e é essa característica que torna a identidade social relevante.

Vem esta conversa a propósito da Académica e da sua importância para a cidade de Coimbra.

Há dois grandes grupos ligados à cidade que agregam um conjunto de pessoas muito mais vasto do que aqueles que aqui nasceram ou vivem: o grupo dos que estudaram em Coimbra e o grupo dos que são simpatizantes da Académica. Estes dois grupos são as identidades sociais mais abrangentes ligadas a Coimbra e que a cidade nem sempre tem sabido capitalizar em seu favor.

Quando a Académica se distingue na conquista de um troféu nacional com a importância da Taça de Portugal, aumenta a relevância e o significado emocional de pertencer ao grupo dos que simpatizam com a Académica. Para dezenas de milhares de Portugueses, residentes ou não em Coimbra, foi emocionalmente relevante identificaram-se nestes dias como simpatizantes da Académica e, em certo sentido, como cidadãos de Coimbra.

Os grupos “nós, os da Académica” e “ nós os de Coimbra” ganhou relevo. Quando a pertença ao grupo é relevante e emocionalmente forte os seus membros estão dispostos a fazer muito pelo grupo. Agora resta-nos sermos capazes de tirar partido disso para bem da Académica e de Coimbra.

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