Governar pela Sebenta

Lucílio Carvalheiro

Frequentemente se omite que, na definição do problema político português, e na análise estrutural do seu alinhamento com a Troika, não basta o ponto de vista quantitativo da receita e da despesa do Estadodéfice – o que parece uma consequência que não é de estranhar, sem que mereça aprovação o ser-se governado por sebenta. O grave é que não se conhece estratégia indirecta para uma autoridade política que ultrapasse o dogmatismo do governo PSD/CDS.

Acontece que a leitura política que valoriza as ideias e os factos é o ambiente. E o ambiente diz-nos que a «sebenta Troika» é a única fonte de conhecimento dos vagos quadros partidários; o ambiente diz-nos que os vagos quadros partidários não são políticos: são tecnocratas ao serviço da plutocracia.

Não obstante, observa-se, naturalmente, que qualquer cidadão reforça nas contingências da oposição o seu instinto de cidadania e, se disponível, a sua vocação para interferir com o poder. Sente-se devedor do auxílio que outros lhe conferem ao reconhecerem-lhe a militância como activista político. É por esse reconhecimento e auxilio que pretendo agradecer ao Diários as Beiras.

Decerto. Assume acuidade o cansaço político do cidadão-comum; e é erro grave a separação do Governo do povo. Ora, este cansaço e esta separação só acontece, em regime democrático, quando o Governo já não consegue manter o equilíbrio funcional entre as duas dinâmicas políticas divergentes – a aspiração neoliberal, de sobreposição do activo financeiro por via do princípio da economia organizada e dirigida, e, do outro lado, a sobreposição do interesse geral ao interesse particular, isto é, o princípio socialista. E sobre esta matéria, no actual momento de Governo, o equilíbrio funcional perdeu-se; um pequeno memorial o referência: ataque ao património do Estado – EDP, REN, ANA, CTT, etc.; ataque ao Estado Social – SNS, Escola Pública, Segurança Social, etc; ataque ao rendimento familiar – cortes salariais e pensões de reforma; ataque à subsistência onde quer que ela se manifeste; ataque às subsistências, via IVA.

Evidentemente que não conheço nada nem do tempo pedido nem das possibilidades que o Partido Socialista estará disposto a conservar na sua discriminante acção política, pelo que, transmitindo o meu desconforto, e aí é que se vê o que posso, se é que posso, fazer o pedido para um reequilíbrio imediato das dinâmicas políticas divergentes – direita (aspiração neoliberal) e da esquerda (aspiração socialista – Estado Social).

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado.

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.