Que PS ficou, no distrito, depois do “cisma” de 2010?
O processo eleitoral interno de há dois anos não foi de facto algo que tenha corrido bem. Mas isso é passado. Eu quero virar a página e não desperdiçar energias nesse tipo de discussão. Todos temos, naturalmente, que aprender com os erros do passado, mas hoje há que olhar para o futuro.
Que balanço faz do mandato de Mário Ruivo?
Nada de tenho de pessoal contra o Mário Ruivo. Bem pelo contrário. Mas, do ponto de vista político faço um balanço extremamente negativo. Em dois anos, não foi capaz de unir o PS, à volta de uma liderança e de uma solução; foi um mero líder de fação, que não foi capaz de promover esses equilíbrios e encontrar esses consensos. Eu, por contra, nunca fui líder de fação, tenho provado a vida inteira que sou um federador, um agregador de pessoas e de sensibilidades, dentro e fora do PS. Por outro lado, também não assisti a um discurso mobilizador para os socialistas e para as pessoas dos 17 concelhos do distrito e da região. E isto é tanto mais preocupante quanto o próximo presidente da Federação vai ter como grande responsabilidade as eleições autárquicas de 2013. Pois bem, o Mário Ruivo pouca ou nenhuma experiência autárquica tem e não lhe é reconhecida capacidade para liderar processos autárquicos. O que aí vem vai ser disputado num contexto político e social difícil e eu, modéstia à parte, já dei provas de que tenho essa experiência e essa capacidade.
O que incorpora do legado de Victor Baptista na sua candidatura?
Quero dizer que o legado que o Victor Baptista deixou no distrito só merece ser reconhecido e elogiado. Com muito mérito, deixou o PS na liderança autárquica. Recordo que, sob a sua liderança, em 2009 ganhámos nove câmaras no distrito. Mas a minha candidatura não está nem pode estar conotada com qualquer outra. Eu tenho as minhas próprias características e experiência pessoais e políticas. Por isso, concorro de forma natural, naturalmente com respeito pelo passado e por todos os presidentes da Federação.
Como pensa conduzir o processo das autárquicas?
Das nove câmaras em que somos poder, há que ver primeiro aquelas em que os presidentes não se podem recandidatar, ou seja, Condeixa, Soure e Tábua. Aqui, em conjunto com os órgãos concelhios e com os próprios presidentes que agora cessam funções, temos de encontrar as melhores soluções…
Admite que essas soluções passem pelos atuais “números dois” desses municípios?
Não diria exatamente nesses termos. O caso de Tábua é diferente, pois o presidente da câmara já admitiu não levar o mandato até ao fim, pelo que o vice-presidente assumirá o cargo no que resta de mandato. Mas, segundo sei, isso não sucede nos outros dois casos, pelo que o processo de escolha que preconizo, em conjunto com os órgãos concelhios e também com o Jorge Bento e o João Gouveia, pode ser enriquecido com consultas de opinião para aferir quem são os candidatos mais bem inseridos na população local e mais reconhecidos para conduzirem os seus destinos. Mas há que dizer que em todos estes três concelhos o PS tem figuras de reconhecido mérito e capazes.
PS parte para as autárquicas para ganhar todas as câmaras
E nos outros seis concelhos?
De uma maneira geral e se for a vontade dos próprios a lógica é que sejam eles os recandidatos. Quero dizer que todos os presidentes de câmara destes seis concelhos são personalidades reconhecidas, que têm obra feita apesar das dificuldades que o país atravessa, que são pessoas sérias e competentes. Mas tudo isto, claro, no estrito cumprimento dos Estatutos do PS.
O PS não é governo em oito autarquias…
O que quero em absoluto comprometer-me é que em nenhuma destas oito o PS parte derrotado. É essa a minha filosofia, na política e na vida. De resto, eu já parti para um combate em que muitos diziam que o PS partia derrotado e ganhámos com larga maioria absoluta. Eu sempre acreditei no trabalho e nos projetos políticos sólidos, que vão ao encontro das necessidades e dos interesses das populações, que sejam bem explicados, que sejam bem sustentados do ponto de vista económico e político.
Ganhar as autárquicas, no distrito, é ganhar a maioria das câmaras?
Sim. Mas não podemos fugir de dois objetivos fundamentais: manter a Figueira da Foz, que reconquistámos em 2009, e ganhar Coimbra. Por isso, aqui é preciso um grande sentido de responsabilidade.
Coimbra é aposta decisiva?
Coimbra há muito tempo que parou no tempo e tem vindo a perder terreno face a outras capitais de distrito, com similares características de cidades universitárias. É preciso acabar com este permanente distanciamento entre a cidade e o ensino superior, público e privado, e lançar, de forma irreversível, a marca Coimbra capital da Saúde. Por fim, é preciso acabar com as costas voltadas entre a câmara e as IPSS, situação que só tem resultado em claros prejuízos para todos, incluindo as famílias e as próprias IPSS, como se viu neste lamentável caso das refeições escolares.
A questão do metropolitano é fundamental?
É e urge encontrar uma solução, até porque há milhares de pessoas prejudicadas, em Coimbra, Lousã e Miranda do Corvo. Mas é também preciso reivindicar a nova autoestrada para Viseu, mesmo sabendo das circunstâncias difíceis do país. Não podemos esquecer que o IP3 é conhecido como “estrada morte” e que um novo traçado permitiria também alavancar o tecido económico do distrito e da região, contribuindo de forma decisiva para que as exportações possam aumentar.
E as pessoas?
As pessoas são as que o concelho perdeu: na última década foram mais de cinco mil habitantes, enquanto que, na década anterior, tinha conquistado nove mil. Continuam a fechar serviços públicos essenciais e a haver total incapacidade para fixar indústrias e postos de trabalho. E o exemplo do iParque é significativo. Basta ver que não há hoje postos de trabalho ali criados nem empresas instaladas…
António José Seguro tem futuro à frente do PS?
O António José Seguro será o próximo primeiro-ministro de Portugal. Agora, tem um trabalho difícil pela frente. Desde logo o memorando da troika, que ele tem respeitado inteiramente. Depois, tem um grupo parlamentar que não escolheu. Mas ele é um homem de grande sensatez. Conheço-o particularmente bem e a sua competência e seriedade. É um homem de princípios, que coloca ao serviço da política e do país. Aliás, o lema que adotou, “As pessoas estão primeiro”, revela a consciência social e cívica que tem.
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