Francisco Queirós
O desemprego é o maior de sempre. Os preços sobem todos os dias, os combustíveis, a eletricidade, o gás, os bens essenciais tornam-se proibitivos.
Os rendimentos são cortados. As empresas vão falindo. Os pobres estão mais pobres, enquanto alastra o empobrecimento a amplos setores da população.
A troika chamada pelo PS e acolhida de braços abertos pelo PSD e CDS impôs um brutal pacto de agressão que está a ser exemplarmente cumprido pelo governo até conduzir o país ao desastre completo.
O consumo decresce e a economia definha. “Compravam carne de vaca, depois carne de porco, a seguir passaram a comprar frango, agora compram salsichas”, revela o próprio patrão da Jerónimo Martins relativamente aos seus supermercados.
Os direitos dos trabalhadores são vilipendiados, as leis do trabalho tornam-se leis dos patrões. Os cidadãos veem desaparecer direitos fundamentais. A habitação, o ensino, a saúde são luxos e para milhões de portugueses já inacessíveis. Os mais elementares direitos dos cidadãos estão comprometidos. Ser idoso é ser pobre. Ser jovem é ser desempregado ou emigrante.
A fome e a miséria avançam a passos largos e são já uma pandemia neste país da Europa do século XXI. A democracia formal é ferida gravemente, com a tentativa de extinção do poder local. A Constituição da República é ignorada e transformada num alvo a abater, sendo um dos últimos empecilhos para a reconstrução de um Portugal sem direitos, sem progresso, sem liberdade. O país sofre uma das maiores agressões da sua história.
O caminho que os representantes locais dos poderosos apontam é um caminho sem saída, para sair da crise oferecem mais crise, mais miséria, a destruição da economia que exangue nunca terá condições sequer para pagar os juros da dívida.
E agora? Podes optar pela rendição, pela submissão, pelo silêncio, de braços cruzados, de joelhos e caladinho como a nêspera do poema de Mário Henrique Leiria, esperando, esperando até que venha a velha e a coma. É uma opção.
E agradecem-te que a tomes! Sim que nada fazer é já optar. Podes optar por te renderes. Ou podes optar por resistir. “Porque outros se calam mas tu não. /Porque os outros vão à sombra dos abrigos. /E tu vais de mãos dadas com os perigos. / Porque os outros são os túmulos caiados/ Onde germina a podridão. / Porque os outros se calam, mas tu não”. E então, como escreveu Sophia, tu não te calas e lutas. Não sabes se vencerás, poderás triunfar ou ser vencido, mas tu sabes que se nada fizeres terás como certa a derrota. Podes assumir-te como um homem bom, perderás um dia de salário, mas pelos muitos salários que te são devidos e pelos salários e direitos que exigirás para os teus filhos.
Pois tu sabes que há homens que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons e que há os que lutam toda uma vida e esses são os imprescindíveis. Mas que me perdoe o Brecht, imprescindível mesmo é que tu dês o primeiro passo! Imprescindível, jovem desempregado, jovem doutor explorado num call center, jovem engenheiro caixa de hipermercado, jovem arquiteto a comer o arroz da Caritas, mãe que não sabe como dar de comer aos filhos, como esticar o dinheiro para pagar a renda, a luz, a água e esse bem, bem caro, que é a eletricidade, e os transportes e…, é que lutes e resistas. Imprescindível, reformado ou idoso, funcionário público ou trabalhador do privado é que não te rendas.
No próximo dia 22, quinta-feira, os trabalhadores portugueses farão parar o país. Serão muitas centenas de milhares de imprescindíveis! Tu também. Porque outros se calam, mas tu não!