José Junqueiro
Alguma coisa não está bem! O que mais preocupa as pessoas é o emprego, a sua estabilidade e o direito a um futuro construído no seu próprio país. Quem não o tem, quem o perdeu ou o procura pela primeira vez quer respostas. É para aqui que deve convergir a nossa concentração: qualificação, crescimento e emprego.
Tudo o resto é dispensável, nomeadamente as polémicas estéreis ou as reformas inúteis. Que sentido faz, para quem quer trabalhar ou perdeu o emprego e tem responsabilidades mensais a cumprir, o Presidente da República em exercício criticar um ex-primeiro ministro, criar uma compita pela proposta de uma comissão de inquérito, dizimar freguesias ou fechar tribunais, sobretudo no interior profundo? Não faz nenhum sentido!
Nada disto qualifica a vida das pessoas, nem galvaniza vontades, nem dá esperança ao país. A convergência nacional maioritária e possível, para objetivos nacionais inelutáveis, evitar-nos-á o caminho da Grécia. Nenhum partido está dispensado deste esforço, mas aqueles que tradicionalmente pertencem ao arco da governação têm especiais responsabilidades.
A não ser assim, o pior está para vir. Sabemos todos que a crise é internacional e que o contexto é volátil, imprevisível. Já o era há dois anos. A falta de união interna e de sentido global de responsabilidade conduziu-nos a uma intervenção externa. Se, neste momento, não soubermos ver mais longe e nada tivermos aprendido com o passado, então o futuro vai passar-nos ao lado.
O contexto em que assinámos o memorando mudou e este compromisso tem de evoluir, deve ser alterado. Os nossos vizinhos espanhóis fizeram essa tentativa e conseguiram metas mais razoáveis para a sua recuperação económica. Bem sei que não têm um programa de assistência, mas esse facto não legitima o conformismo, o baixar de braços.
Sabemos, acho que todos sabemos, que o dinheiro desse programa se esgotará já em 2013. Vai ter de ser pago. Mas como, se não há economia adequada? Nada custa admitir que precisamos de mais tempo, como refere de modo insistente António Seguro.
São muitas as personalidades de topo na vida portuguesa, pertencentes à atual maioria, que defendem mesmo um reforço deste programa de assistência ou um novo. Chegam mesmo a quantificá-lo. Sendo assim, ou o governo tem certezas que mais ninguém possui ou então entrámos novamente em gestão política de contexto, com consequências imprevisíveis.
Os sinais das recentes querelas políticas não auguram nada de bom. Não me refiro à discussão de opções políticas concretas, úteis, porque essas conduzem à escolha. Apenas sublinho tudo aquilo que não conduz a nada. O improviso não é um bom caminho, nem tão pouco é um caminho. O retrocesso na qualidade de vida das pessoas, o acesso mais difícil à saúde ou à educação, o empobrecimento, os salários baixos, não são solução, nem inevitabilidade.
Esperemos, pois, que os resultados dos testes de popularidade aos principais responsáveis políticos, conhecidos que foram esta semana, possam ajudar à reflexão. Alguém imaginaria, por exemplo, que o Presidente da República tivesse uma apreciação negativa de menos 32%? É algo que nunca existiu nos últimos 30 anos. Fica o sinal!