Estudos sociais

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Aires Antunes Diniz

Todos os dias ocorrem pequenos, médios e grandes crimes e agora que a crise aperta, a ministra da Justiça tenta arranjar um método expedito de afastar dos tribunais os pequenos furtos nas grandes superfícies, fazendo com que estas os tenham de participar e, claro, pagar as custas. Mas, aquilo que choca e irrita a opinião pública, porque desanima os que querem justiça, é o enredo manipulador das consciências que existe à volta dos casos mediáticos, mostrando como existe e persiste a injustiça.

Muitos de nós nem sequer consideramos que as técnicas de investigação policial usadas são demasiado artesanais e escassamente científicas, permitindo aos criminosos escapar-se às malhas da lei, usando para isso as habilidades dos advogados ou o jogo das influências obscuras. Ninguém escreve entre nós sobre técnicas de investigação policial como acontecia há setenta e sete anos: “Do nosso presado colega Diário de Coimbra, transcrevemos alguns períodos do artigo firmado por Eurico de Campos, cujo título nos serve de epígrafe: o crime da Areosa é um índice muito digno de estudo daqueles que se dedicam à prevenção e repressão do crime”.

Eurico de Campos é agora um desconhecido, mas continua a ser necessário que os estudos policiais tenham, como qualquer ciência, o escrutínio dos cidadãos para que pudéssemos ajuizar sobre a sua qualidade, agora que a ciência tanto avançou, permitindo maior certeza nas conclusões. Contudo, o caso Baltazar Garzón que, infelizmente, pouco tem sido discutido entre nós, mostrou como existem forças poderosas que forçam silêncios e castigam em Espanha quem quer ouvir as vítimas do Franquismo, assim como entre nós se calaram para sempre as do Salazarismo. Chegam-me por isso anexos de email que me dão conta das fracas habilidades jurídicas com que se castiga quem ama a verdade.

Entretanto, poucos falam da falta de policiamento e, para complicar e turvar as águas, os advogados dos poderosos vão argumentando contra a justiça feita fora dos tribunais, enquanto alguns “corajosos”, dando-lhes razão, querem “matar os assassinos” que entram nos tribunais guardados pela polícia. De facto, os tribunais deviam dar contas públicas dos casos que julgam, colocando-os à disposição dos cidadãos para que avaliem a qualidade da justiça. Infelizmente, os cidadãos apenas discutem a qualidade da arbitragem dos jogos de futebol, esquecendo-se de o fazer em relação aos jogos de corrupção com que se esgota e se inquina o património individual e coletivo, tornando-nos menos competitivos neste mundo global.

Afinal, conversando e partilhando ideias, é possível saber quem são os autores de tanta trafulhice nacional em que se esgota a nossa riqueza, mas para isso era necessário que os estudos policiais e a justiça resultante fosse explicitada e explicada aos cidadãos. E, claro, afinal, tudo depende de nós.

1 A Aurora do Lima, ano 83, n. 78, 30 de Setembro de 1938, p. 2, coluna 1

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