Ricardo Castanheira
António Feio, reputado ator português, tinha uma máxima que ficou famosa sobretudo na parte final da sua vida, face à doença que acabou por vitimá-lo: “façam o favor de ser felizes!”, repetia entusiasticamente.
Vem isto a propósito de uma pesquisa recentemente realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Brasil, que concluiu estarem os portugueses entre os povos mais infelizes do mundo. Nós e os gregos!..
Não se apresenta aqui propriamente uma novidade. É sabido que a idiossincrasia lusa assenta numa nostalgia e pessimismo crónicos. Vem de longe esta sina. Não por acaso a saudade e o fado – símbolo nacional e reconhecido património da humanidade – são elementos da nossa expressão social e cultural.
O problema está nas causas e nas consequências desta ausência de felicidade nacional. Dizer que nos “vai no sangue” é certo mas é curto. Nos dias que correm a crise profunda em que vive o país justifica muito do pessimismo coletivo, porém o impacto económico e social deste débil estado de espírito é arrasador.
O governo deveria ler atentamente este estudo da FGV e tentar procurar compreender que um país sem felicidade é um país sem esperança; que um povo pessimista é um povo desmobilizado. As crises são oportunidades também, porém ninguém, hoje, sabe demonstrar ao bom e sacrificado povo português quais são esses ensejos. Não se percebe uma luz ao fundo do túnel. E isso é dramático!
O estudo da FGV compara 158 países. Não é, pois, de admirar que os brasileiros liderem, pelo quarto ano consecutivo, o Índice de Felicidade Futura (IFF). A pesquisa procurou saber a expectativa de felicidade das pessoas hoje e nos próximos cinco anos. Arrasador, portanto, para Portugal!
Aparecemos na 146ª posição, por contraposição a outros países onde também se sente a crise (Irlanda, em 16º; Reino Unido, em 26º; Itália, em 56º e Alemanha, em 62º), logo o atual contexto não justifica tudo.
Esperemos que Vinicius de Moraes não tenha razão: “Tristeza não tem fim, felicidade sim…”
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