Álvaro Amaro
Qualquer político atento e sensível às dificuldades dos seus concidadãos não pode ter uma outra atitude que não seja a de compreender as intranquilidades e incomodidades que geram nas nossas vidas e até os estados de angústia que o desemprego e a crise social provocam num grande número de pessoas.
Se assim é para a generalidade dos agentes políticos, por maioria de razão o é para quem, como eu, se funda numa cultura humanista e nos ideais da solidariedade e da democracia.
Perceberão, por isso, que não sou insensível às angústias dos que, confrontados com as dificuldades, as manifestaram publicamente no passado domingo, buscando na projecção mediática concedida a uma visita do primeiro-ministro a Gouveia uma maior visibilidade das suas reivindicações.
As cerca de quatro dezenas de manifestantes foram respeitadas. Não apenas pela multidão que quis expressar o seu apoio ao chefe do Governo, como por este próprio, como foi amplamente reconhecido pela generalidade dos comentadores e analistas políticos.
Passos Coelho, deve reconhecer-se, agiu com respeito, ouviu com serenidade e falou com rigor e com sentido de pedagogia democrática.
Não nos deve espantar que a força emocional das dificuldades na PSA/Citroën em Mangualde ou que a contestação ao fim das SCUT ou ainda que a agenda reivindicativa da CGTP sejam mais apelativas do que a avaliação ponderada e rigorosa das soluções para o país. Não nos devemos espantar que tivessem vindo ao concelho de Gouveia expressar os seus estados de alma.
Mas deve também ser dito que o primeiro-ministro agiu como se exige de um político responsável e confortado com as suas opções, com convicções e coragem para as confrontar, até mesmo na rua.
O temor acompanha, geralmente, a má consciência política. Percebe-se, sem esforço particular, que o primeiro-ministro não sofre desses males.
Ainda temos na nossa memória recente a exaltação como estilo e a arrogância como cultura, sempre que alguém ousava ensaiar uma crítica ou manifestar descontentamento com o rumo das coisas.
Lembram-se?
A firmeza nem sempre é sinónimo de força. E muito menos de razão.
Perante uma pequena e instrumentalizada manifestação de descontentamento como a que ocorreu em Gouveia e num retrato de problemas não directamente conotados com o concelho, seria fácil ensaiar uma estratégia de fuga ou uma surdez indiferente, como tantas vezes se viu na política portuguesa.
Pedro Passos Coelho fez diferente. E bem. Porque a liderança política é, acima de tudo, pedagogia democrática e respeito pela cidadania. Penso que deu uma lição de política e prestigiou o seu exercício, como se espera de quem tem um mandato conferido pelos seus concidadãos.
O domingo passado pode ter sido um momento de boa história política, ainda que fazendo esquecer o bom produto que é o queijo e as boas gentes – os pastores e produtores – que fazem da sua produção um modo de vida.