Comerciantes da Baixa de Coimbra enfrentam a mais grave crise das últimas décadas

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Arquivo - Gonçalo Manuel Martins

Os comerciantes da Baixa de Coimbra enfrentam a mais grave crise das últimas décadas, com quebra de vendas e encerramentos que acentuam a desertificação do centro histórico.

Com as atuais dificuldades do pequeno comércio, aumenta o desemprego e decresce ainda mais o movimento nas ruas, onde outrora se acotovelavam milhares de pessoas nas horas de ponta. “Há muitas lojas encerradas. Há outras de que se fala que podem vir a encerrar”, declarou à Lusa Arménio Pratas, dono de um pronto-a-vestir na rua da Sofia.

A perda de população e a flagrante ruína de muitos edifícios potenciam a insegurança. Persiste na Baixa alguma criminalidade, como furtos, tráfico de droga e vandalismo, dois anos após a instalação de um sistema de videovigilância. “Há menos polícias na rua. Tudo se conjuga, a crise acentua-se com os assaltos”, afirmou Arménio Pratas.

Alguns estabelecimentos já foram assaltados várias vezes. É o caso da perfumaria Pérola, na rua Visconde da Luz, a curta distância da Igreja de Santa Cruz e da Câmara Municipal. Propriedade de Armindo Gaspar, presidente da Agência de Promoção da Baixa de Coimbra, a loja sofreu três assaltos em poucos anos, dois deles já com a videovigilância a funcionar.

Devido ao último roubo, na semana passada, Armindo Gaspar sofreu prejuízos que rondarão os 30 mil euros, entre mercadoria perdida e danos nas instalações.

Muitos lojistas optam por despedir pessoal ou fechar até os estabelecimentos, como aconteceu recentemente com a prestigiada sapataria Elegante. “Temos problemas com os nossos fornecedores, porque pagamos cada vez mais tarde”, disse Arménio Pratas.

Os problemas do comércio acentuaram-se após a implantação de grandes superfícies comerciais que desviaram as multidões do centro histórico. “O declínio da Baixa de Coimbra começou em 2000”, recordou Francisco Veiga, da firma Modas Veiga, ao lamentar que a cidade esteja hoje “cercada por grandes espaços comerciais”.

Recuando aos anos 80, defendeu que a deslocalização dos Hospitais da Universidade, da Alta para a zona de Celas, esteve na origem dos primeiros problemas do comércio local. “Havia aqui milhares de pessoas a circular. Vinham nos transportes públicos”, explicou Francisco Veiga. A propósito, criticou a transformação do percurso entre o largo da Portagem e a Câmara em área exclusivamente pedonal, quando nos anos 90 autocarros e tróleis foram desviados do canal.

Para Arménio Pratas, “a Baixa é apetecível” e pode ainda reerguer-se das cinzas. “Não tenho dúvida nenhuma de que, mais tarde ou mais cedo, vai ser novamente a Baixa que nós tínhamos”, vaticinou o ex-dirigente da Associação Comercial e Industrial de Coimbra.

No dia em que foi entrevistado pela Lusa, Francisco Veiga encerrou uma das duas unidades que integravam a firma Modas Veiga, tendo extinguido um posto de trabalho. “Quase diariamente há lojas a encerrar, o que irá acontecer com mais frequência”, disse. Na Baixa, “as vendas baixaram 40 por cento” desde novembro.

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