Para o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Fernando Gomes, o “maior défice” na saúde tem sido a falta de planeamento estratégico. E teme que algumas das medidas anunciadas “possam pôr em causa a acessibilidade” dos cidadãos aos serviços de saúde.
Atualmente quais são as principais preocupações na área da saúde?
Como cidadão tenho muitas preocupações, como médico ainda tenho mais. O que se antevê, com as medidas anunciadas, que começam a ser implementadas, é que a acessibilidade aos cuidados de saúde pode estar em causa. Estou a referir-me concretamente às taxas moderadoras, que, na minha opinião, passaram a ser cofinanciamentos, copagamentos. Mas também ao facto de os doentes não terem dinheiro para comprar medicamentos, o que neste momento começa a ser aflitivo. E se baixarmos o financiamento dos hospitais, a qualidade do tratamento vai baixar.
As taxas moderadoras podem reduzir o recurso às urgências?
Pergunto como é que se pode moderar um acidente de viação, um doente traumatizado que vai para a urgência? Existem algumas falsas urgências, mas porque os cuidados primários de saúde foram descurados durante muito tempo, nomeadamente não abrindo vagas para médicos de família. Chegamos ao ponto de ir buscar médicos à América Latina, uma situação desnecessária, porque não se pode iludir as pessoas dizendo que todas têm um médico. E houve outro erro, que foi abrir extensões de saúde em todo o lado, algumas apenas por razões eleitorais. As reformas com alguma relevância nos cuidados primários de saúde, como a criação das USF, foram importantes, mas feitas a conta-gotas.
Entrevista completa na edição impressa de 11 de fevereiro do DIÁRIO AS BEIRAS