Fado de Coimbra e Património da Humanidade

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Mário Nunes

Nos primeiros dias a seguir à notícia de que o fado fora reconhecido Património Imaterial da Humanidade, Coimbra acordou?” pela voz e escritos de alguns conimbricenses, opinando sobre a realidade que se divulgou pelo mundo, lastimando que o fado de Coimbra não tenha apanhado o “comboio” e viajado no mesmo compartimento.

Embora, todos ficassem honrados e orgulhosos pela decisão da Unesco, entendemos que um certo desconforto se instalou nos verdadeiros cultores do fado de Coimbra, regressando o eterno debate: “fado ou canção de Coimbra?”

O defensor e divulgador do fado de Coimbra, Sansão Coelho, em “O Despertar” de 2/12, depois de aflorar a criação do fado de Lisboa e de aludir ao de Coimbra de estudantes e futricas, refere a sua permanente teorização, e lamenta que “pouco se tem ouvido deste fado de Coimbra, cada vez com menor número de cantores em especial jovens”. Lamenta, também, que não tenha entrado, em simultâneo, na candidatura e que o fado de Lisboa tenha “esquecido o seu irmão ou primo coimbrinha … e que aquele não venha diabolizar o de Coimbra e retirar-lhe espaço de divulgação”.

Por sua vez, Virgílio Caseiro, nas “Beiras” de 29/11, formula um rol de perguntas aludindo a outros cantos e músicas, a verdades paralelas, esquecidos ou marginalizados: “mais uma vez … Lisboa vai-se construindo, tirando partido de ser sede do poder político, recorrendo a este facto para liderar movimentos, benefícios, projetos, decisões … e infelizmente Coimbra, mais uma vez se auto exclui, movida por critérios intelectuais e éticos de diferença estilística. Será fado? Será canção de Coimbra? E, mais adiante, afirma que “ musicalmente a canção de Coimbra nada fica a haver ao fado lisboe-ta … crendo ser óbvio para todos a lógica de uma candidatura globalmente envolvente e única, moldada e justificada por razões dominantes de nacionalidade portuguesa”.

Apresentamos, ainda, a opinião de Jorge Cravo, que no concernante ao de Coimbra, acentua: “Coimbra não está na candidatura. Nem tinha de estar. Não é possível afirmar-se a nossa diferença quando convém e, depois, por questões de comodismo e marketing, querer apanhar a última carruagem do fado”. E, esclarece “que Coimbra o fez na devida altura”. Aliás, talvez antes de Lisboa iniciar os trabalhos para a candidatura, pois tentámos nós, na altura vereador da Cultura, com o seu apoio, avançar com a candidatura. Uma proposta, nesse sentido, apresentada na reunião do executivo camarário, em 15 de Março de 2004 e aprovada por unanimidade, criou uma comissão de trabalho, que sugerimos fosse liderada pelo Dr. Jorge Cravo, para acompanhar a candidatura.

E, em Dezembro desse ano, por protocolo firmado entre a Câmara e a Universidade, a canção de Coimbra passou a integrar o património intangível da candidatura de Coimbra, pela Universidade, a património da Humanidade. Reuniões havidas, irregulares, não tiveram o ritmo desejado. Aliás, Jorge Cravo, nas “Beiras”, de 29/11, escreveu: “Tudo está por fazer na canção de Coimbra, embora, desde 2008, exista, na Reitoria da Universidade, um seu projeto de revitalização e difusão”. Conclui: “Coimbra quer recriar a sua canção, para que ela seja a marca de maior visibilidade da cidade, ou tudo não passará de mais uma oportunidade perdida?”.

Expressas as opiniões recolhidas, lamentamos a demora de Coimbra e a não incorporação na iniciativa de Lisboa. Depois da aprovação do executivo municipal, de criado o “Prémio Edmundo Bettencourt”, em 2002, da revitalização das “Noites do Fado de Coimbra” e do apoio aos grupos de fado, em 2003, e das relações ativas com a secção da Academia, foi pena. É que Coimbra “acorda”, por vezes, sobressaltada, e depois volta a “adormecer”.

 

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