Os oportunistas e a crise

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Aires Antunes Diniz

Agora que a crise está a enviesar raciocínios, fazendo cair sucessivamente os líderes da Europa, é importante que saibamos analisar o que a fez nascer ou o que criou as condições da sua evolução negativa quando a Europa foi construída com o objectivo de criar condições de Paz e de defesa dos Direitos do Homem.

Mas como tudo na vida logo existem seres de ambição desmedida apostados na perversão de quaisquer bons propósitos desde que com isso ganhem algo que ambicionem ou simplesmente poder.

Acontece isto na Europa como aconteceu em Portugal com a ideia republicana “originariamente baseada na escola idealista de Coimbra, misto de cepticismo e de crença, Antero e José Falcão, Oliveira Martins e Teófilo”, enquanto os oportunistas gritavam ser preciso enriquecer, ser livre, ser feliz e pesar na balança das nações”, intervieram manadas anuais de bacharéis que Coimbra engendrava sem cessar”. E a estes se juntaram muitos outros de outras universidades e institutos politécnicos como se não houvesse alternativa. E pior ainda dando todas as oportunidades aos mais oportunistas que, naturalmente, fizeram pela vida. De facto, os portugueses têm sistematicamente caído nos mesmos erros e parece não haver qualquer volta a dar-lhe.

Num livro que comprei em 2000 no Rio de Janeiro, Paul Krugman avisava a Europa para a má qualidade dos seus líderes e, repare-se, este economista conhece bem Portugal pois por cá andou há mais de trinta anos como conselheiro económico. Infelizmente, tudo piorou nos últimos anos. De facto, Sócrates, antigo estudante de Coimbra, ascendeu ao poder sem que ninguém reparasse nos seus títulos académicos. E durante mais de seis anos desenvolveu teorias abstrusas sobre educação com o apoio frenético, dedicado e acéfalo de muitos. Também na economia e finanças fez o mesmo enquanto do Banco de Portugal e outros locais de “reputado saber”, como são as universidades, ninguém dissesse que o homem estava errado. Nem sequer viram que estava à deriva quando para ele o mundo começou a mudar de trajectória todas as semanas. Eram os efeitos da malfadada madrinha, também ela, pouco sabedora das regras da economia, tanto europeia, como global. Entretanto, chegou a hora de Berlusconi, também ele personagem de elevada comicidade, um entertainer que levou ao que dizem eminente colapso do euro.

Infelizmente, poucos parecem desejar ir às raízes do mal e curar tudo. Querem secar a árvore até há pouco frondosa onde encontrávamos os ideais europeus da Paz, da Prosperidade e da Coesão Social. Agora, estes argumentadores traçam cenários de crise como se não houvesse nada a fazer.

Mas, claro que outro mundo é possível a construir através vontade democrática dos Povos. Esperemos só que tenham aprendido com a história europeia recente.

1 – José Campos Pereira – A grande crise, Atlântida, ano II, n. º 23, 1917, pp.912.

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