Mercados – troika: que grande mangona a nossa

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Lucílio Carvalheiro

Os portugueses são excessivamente impressionáveis e crédulos, e sempre prontos a aceitar, a acreditar, a tomar como ponto de fé e como verdades os que os outros inventam e propagam tendo em mente outros interesses.

Pois bem. Os mercados têm nome – bancos, fundos de pensões, fundos de investimento – e fazem o que lhes compete: aplicação de capital ao mais alto valor retributivo. E o FMI, BCE, UE – Troika – financiam os Estados seus associados, a pedido destes, quando se encontram em dificuldades de tesouraria. Estão no seu papel, estão na sua lógica. Em consciência, com objectividade e isenção, não há por que os criticar.

Acontece que quando se fala em dinheiro, terá que se falar na produção de bens e serviços; igualmente, quando se fala de produção de bens e serviços, forçosamente, terá que se falar de pessoas.

Por outro lado conhece-se a máxima em léxico económico: “nenhuma relação nova e mais altamente produtiva jamais se verifica antes que as condições materiais para a sua existência tenham chegado à maturidade no seio da própria produção”.

Perante estes dados, opta o Governo de Coligação PSD/CDS por fazer deles uma leitura Lapalaciana (verdades), dedicando um trabalho imenso para provar que a Ditadura (Financeira) convive bem com a recuperação económica. É ultrajante. E mais ultrajante o é, quando reconhece que a mudança abrupta dos alicerces económicos – recessão assumida e cultivada – potencia toda a volatilidade em que a vasta superstrutura arquitectada (equilíbrio financeiro) será rapidamente ultrapassada – agravada, falhada.

Verificando-se que as questões materiais – produção de bens e serviços, serviço de dívida (capital + juros) – estão fora de controlo, impõe-se a vontade, a resolução, a lucidez, a capacidade, o rasgo de cada um de nós. E aqui ganha toda a sua virtualidade a intervenção das pessoas nas opções políticas a incrementar.

Acontece, porém, que os tempos não são novos, nem são outros. De novo encontramos uma consciência nacional obnubilada e uma elite política unificada. Da experiência acumulada, dos conhecimentos adquiridos, é feita tábua rasa, sem cuidar que subestimando a força da actividade humana – paixões, interesses, objectivos, talentos, virtudes, poder, injustiça, vícios e mesmo casos exógenos – não haverá possibilidade de conquistar o reino da necessidade.

Deste modo, o Governo de Coligação PSD/CDS, sem oposição, não só se assemelha mas comporta-se como uma máquina na qual os cidadãos são apanhados e triturados.

Quanto fica para trás, suscita naturalmente uma interrogação: então que fazer e como fazer? Desde logo e em primeiro lugar abandonarmos a mangona (indolência) política; em segundo lugar, defendendo e incentivando o tecido económico para que a política não seja corrompida pela influência de uma educação financeira impositiva.

Sucintamente. O sector administrativo do Estado – Assembleia da República, Governo (Ministérios), Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia – terão que ser revistos os seus orçamentos à luz de um custo/benefício razoável – diminuição em pessoal político nuns casos, cortes em despesas da “corte de infiltrados”, em outros.

Quanto à economia, emprego, recuperação: diminuição do IRC para as micro e pequenas empresas (isenção nos casos de lucro até um milhão de euros/ano).

Enfim: Por algum lado temos que começar, todavia, nunca pela asfixia política das pessoas, nunca pela asfixia económica das empresas, sugando toda e qualquer capacidade financeira daquelas e destas. Por último, recusarmo-nos a adormecer ao som deste cantar miserabilista – dos coitadinhos à espera da solidariedade internacional, caso do Governo, da solidariedade entre os portugueses, caso interno.

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